sexta-feira, 18 de julho de 2014

Brasil, futebol clube

“Um jogo de futebol em uma Copa do Mundo é o fato social total. Expresso na metonímia de que 11 pessoas são o Brasil” – diz o Prof. Edson Gastaldo, da Universidade Rural  do Rio de Janeiro. Sob o título “A Pátria de chuteiras”, o último número da revista da PUC-Minas  traz  longo e profundo estudo sobre o fenômeno cultural que representa o futebol para nossa pátria, começando pelo subtítulo: “Presente no cotidiano do país, o futebol permeia a cultura e celebra a nacionalidade brasileira.” Essa Universidade orgulha-se de ter  tido entre seus alunos o meia Rivelino e o atacante Romário.
                Numa tarde fria de outono de  1895, Charles Miller (1874-1953) reuniu uns amigos e convidou-os a disputarem uma partida de foot-ball, enquanto lhes explicava as regras  do novo esporte  e enchia de ar a bola para a primeira partida desse jogo no Brasil, que até então só conhecia o críquete – foi o que informou o introdutor no Brasil do esporte bretão, em declaração à revista O Cruzeiro de 1952. Por muito tempo ainda, as Ciências Sociais viam o futebol de modo desconfiado. Julgavam-no como o ópio do povo, que servia apenas para ludibriar as classes trabalhadoras e afastá-las das discussões políticas de seus interesses. O maestro Heitor Villa Lobos dizia que o futebol não pegaria no Brasil, sendo mais um modismo, como na época eram o ioiô e o bambolê. É de Graciliano Ramos o texto Futebol é fogo de palha, publicado em 1920.
                Foi a partir do Estado Novo, com o Presidente Getúlio Vargas, que o futebol começou a se popularizar.  A Copa da França em 1938, com a participação de Leônidas, o “diamante negro” e a transmissão radiofônica, empolgou todo o país. A obtenção do 2º lugar, vencido pela Itália na partida final, trouxe enorme popularização para o futebol.  A criançada – eu estava nela – fazia  os famosos álbuns de figurinhas. Comentaristas radiofônicos e cronistas nos jornais, como os irmãos Mário Filho e Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira usavam linguagem coloquial, mais próxima do torcedor. Poucos sabem que o nome oficial do Maracanã, palco do final desta Copa, é Estádio Jornalista Mário Filho. Maracanã  é  bairro carioca, onde se situa o famoso estádio.  O governo militar aproveitou bem da conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970, com as campanhas ufanistas do slogan Ninguém segura este país  e o hino da Copa Noventa milhões em ação – Pra frente Brasil do meu coração – Salve a Seleção.  Também a campanha Diretas Já!  colocou nos palanques de seus comícios o craque corintiano Sócrates.
                Para esta Copa, o Ministério do Turismo calcula que o Brasil irá receber cerca de 600 mil turistas estrangeiros, além de 1,1 milhão de brasileiros que se deslocarão pelo país para as cidades-sedes do Mundial. Para o arcebispo Anuar Battisti, da pastoral do turismo da CNBB, “Um evento como esta Copa pode ser muito favorável para o nosso país. O grande ganho, diz ele, será tornar nosso país mais conhecido e admirado. Desejamos que os turistas do esporte possam ser também turistas de outras maneiras, tão agradáveis como o futebol.”

                O que me impressiona – e esta é uma opinião inteiramente pessoal – é que se o Brasil não conquistar o primeiro lugar, que obteve já cinco vezes, para muitos será uma desgraça nacional, quase como se uma bomba atômica tivesse caído em território nacional. Mas - pergunto eu antipaticamente - as outras seleções não têm também, como a nossa, o direito de conquistar a Copa do Mundo?...  

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