quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Papa e o jornalista

            Salutar espanto e positiva admiração causou a carta que Papa Francisco escreveu ao jornalista italiano Eugênio Scalfari, em resposta a dois artigos, publicados no jornal La Repubblica de 7 de julho e 7 de agosto.
               De início, o Papa Francisco agradece à atenção que o jornalista deu à encíclica Lumen Fidei, que o pontífice declara que “meu amado Predecessor concebeu e em grande parte redigiu e que eu herdei com gratidão”. E acentua que a encíclica é dirigida não só para confirmar na fé os que creem em Jesus Cristo, mas também a suscitar um diálogo sincero com aqueles que, como Scalfari “se define como um não-crente há muitos anos interessado e fascinado pela pregação de Jesus de Nazaré.”
Pela estreiteza de espaço, vou limitar-me às manchetes e a um resumo da resposta que o Santo Padre deu às três perguntas do jornalista. Destacava o jornal italiano em sua edição de 11 de agosto: “O Papa: minha carta para quem não crê” – “Francisco responde a Scalfari: Deus perdoa a quem segue a própria consciência” –  “Aos não-crentes: se obedecerdes à voz da consciência, tereis o perdão de Deus” –“Também para quem tem fé, a verdade não é absoluta; nós não a possuímos, é ela que nos abraça” – “Os irmãos judeus conservaram sua fé em Deus e disso, nunca lhes seremos suficientemente gratos, como Igreja e também como humanidade”.
               Respondeu o Papa Francisco: “Pareceu-me que sua preocupação maior é conhecer a atitude da Igreja em relação aos que não condividem sua fé em Jesus. O senhor me pergunta se o Deus dos cristãos perdoa a quem não crê e nem busca a fé. Dado o fundamental que a misericórdia de Deus não tem limites, a questão para quem não crê está no obedecer à própria consciência. O pecado, seja para os incrédulos como para os crentes, está em pôr-se contra a sua consciência. Outra indagação do senhor é que admitir que não existe nada absoluto, nem uma verdade absoluta, seja isso um horror ou um pecado. Segundo a fé cristã, a verdade é o amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Portanto, a verdade é uma relação! Em seu último artigo, o senhor me pergunta se com o desaparecimento do homem sobre a terra, desaparecerá também o pensamento capaz de pensar Deus. Respondo: Deus é realidade – Jesus no-lo revelou como um Pai de bondade e de misericórdia infinita. Portanto, Ele não depende do nosso pensamento. Pela fé cristã, este mundo, como o conhecemos, está fadado a desaparecer. Mas o homem não terminará de existir, como também o universo criado com ele. Não sabemos como. A Sagrada Escritura nos fala de “novos céus e nova terra!” e que Deus será tudo em todos.”
               Termina o bispo de Roma: “Caro Dr. Scalfari, concluo assim estas minhas reflexões, provocadas pelo que me escreveu. Receba-as como a tentativa de uma resposta provisória, mas  sincera e confiante. Convido-o a fazermos juntos um trecho do caminho. A Igreja, creia-me, não obstante todos os erros e pecados que possa ter cometido, não tem outro sentido e outro fim, a não ser viver e testemunhar Jesus. Ele foi enviado pelo Pai – Abbá – “a dar a boa nova aos pobres, a proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor (Lc 4, 18s)”.
               Notável a conclusão da carta publicada no jornal:
            “Com fraterna proximidade, Francisco.”
               Foi assim a primeira carta na história que um Papa escreveu para um jornal leigo, ainda mais tido como “de esquerda”...


"Meninos, eu vi!"

         Parodiando Gonçalves Dias em seu poema "I Juca Pirama", posso dizer: Meninos, eu vi! Sim, eu vi nos dias 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro, a vibração dos jovens peregrinos do mundo inteiro, o carisma e a simpatia irradiante da santidade de nosso Papa Francisco, a organização e o trabalho insano dos milhares e milhares de voluntários, dirigidos pela Comissão arquidiocesana de organização e empenhados num perfeito serviço de logística e desenvolvimento de tão variadas e complexas atividades, que compunham o mega evento - o maior da história  do Brasil - que foi a Jornada Mundial da Juventude. Para receber este título, basta pensar que a missa de envio do domingo, 28, na praia de Copacabana, que encerrava os atos centrais da Jornada, contou com uma multidão de mais de três milhões de pessoas.
                Na quarta, 24, participei em Niterói do encontro mundial do Movimento Juvenil Salesiano, em que os jovens dialogaram com Reitor Mor, Padre Chavez e a Superiora, Madre Reungoat. Na quinta e na sexta, 25 e 26, participei com Dom Valério Breda das catequeses que ele administrava por mandato da Comissão Pontifícia dos Leigos, confessando os jovens em grande número, sendo que no último dia, na paróquia de N. Sra. do Carmo, presidi à concelebração eucarística, dirigindo alguns palavras de incentivo e entusiasmo aos jovens na sua missão de evangelizar os outros jovens. O Papa Francisco, depois de Aparecida, foi acolhido pela Jornada na noite da   quinta, 25. Sexta, 26, em Copacabana, realizou-se com muita piedade e arte a belíssima Via Sacra. Na noite do sábado, o Papa presidiu a adoração eucarística, iniciando a vigília de encerramento.
                 No domingo, 28, foi a  apoteótica conclusão com o envio dos jovens, discípulos e missionários, para levar Jesus à juventude. O Papa resumiu em três expressões sua mensagem: Ide - Sem medo - Para servir. Ainda na tarde daquele domingo, no encontro de despedida com os milhares de voluntários, a afirmação de Francisco que causou estupor e maior impacto foi aquela: O jovem que não protesta, "no me gusta" - não me agrada!
                   Realmente, devo dizer: "Meninos, eu vi! "

       

       

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

COMO E POR QUE SOU SALESIANO




Depoimento

Não me lembro do tempo em que não quis ser padre. Desde a primeira infância, pensava em ser padre, professor e jornalista.Como salesiano, exerci o magistério nos três colégios, onde fui diretor.  e ainda como bispo, dei aulas no Seminário de Maceió. E nem depois de bispo emérito, deixei de dar um cursinho lá e cá. Em Noronha e no Recife.                  Jornalista, fui a vida toda. Fiz alguns cursos breves de jornalismo, rádio e televisão, inclusive na famosa Escola Gásper Líbero de São Paulo. Tive algumas oportunidades raras nesse campo. Participei de duas tardes do Festival de Cinema de Veneza, levado pelo amigo Marco Bongiovanni., Como turista, já bispo, visitei Hollywood, a Meca do cinema mundial. Mas, no campo do jornalismo, o importante mesmo foi dirigir por nove anos a revista “Cooperador Salesiano” e, depois, como emérito, criei o boletim da ADMA e, ainda, o boletim “Santuário”, que após  nossa igreja ter recebido o título de Basílica, passou a chamar-se “O Semeador”. Hoje escrevo um artigo quinzenal para a GAZETA DE ALAGOAS, para O SEMEADOR de Maceió, e eventualmente, algum artigo meu é publicado na Coluna das religiões do Jornal do Commercio, aqui no Recife.
Mas o sentido de minha vida está todo no sacerdócio salesiano. Ao concluir o curso primário, como se chamava então, com 10 anos, procurei, como era natural, ingressar no Seminário de Olinda. As despesas eram exorbitantes. Além de um longo enxoval para entrada, havia a aquisição de duas batinas, que eram de uso diário e uma taxa mensal.  Papai estava desempregado, porque a firma onde ele trabalhava falira. Era a Lafaiette, fabricante de cigarros, que tinha uma loja de vendas de seus produtos na esquina da 1º de março com a rua do Imperador, onde Papai era gerente e, pela importância daquele local, era bem conhecido no Recife.   Acontece que como aluno do Colégio Moderno em Afogados, tinha um professor, secretário e responsável maior do colégio. Era o professor era Estácio Antunes, ex-salesiano e muito amigo de um seu antigo colega, o Padre Aécio Polla, diretor do Colégio Salesiano do Recife. Um belo dia, Prof. Estácio perguntou-me: “Você quer ser padre salesiano?” Pedi três dias para pensar e respondi que sim. E foi assim que no dia histórico da morte do Papa Pio XI, o Papa de Dom Bosco, 10 de fevereiro de 1939, em companhia de meu amigo, Luiz Marinho Falcão, ingressei no aspirantado de Jaboatâo.
No ano seguinte, o aspirantado transferiu-se para o Colégio do Recife. Voltei para o noviciado em Jaboatão em 1943 e aí, no dia 31 de janeiro de 1944, fiz meus primeiros votos religiosos. Assim, se chegar lá, no próximo 31 de janeiro, estaria completando 70 anos de profissão, já o mais antigo de votos de nossa Inspetoria.
Em Natal, cursando o primeiro ano de filosofia, tive uma forma benigna de tuberculose pulmonar: infiltração nos hilos dos dois pulmões, daí se irradiando para os ápices. Vim ao Recife tratar-me com o Dr. Miguel Archanjo, que daí em diante, tornou-se grande amigo do colégio. 1945 foi meu ano de tirocínio em Cajazeiras, onde era vice-assistente e secretário do colégio. Em 1946, voltei para o Recife e, finalmente, de 1947 a 1949 fui para a casa de repouso de São José dos Campos, onde tive a grande graça de conviver com o santo Padre Rodolfo. Nestes três anos, estudava filosofia e prestava exame de cada tratado concluído.
Fiz votos perpétuos em janeiro de 1950 e durante o ano, o tirocínio. Meus felizes anos de teologia foram de 1951 a 1954, no Instituto Teológico Pio XI da Lapa. Fui ordenado em 8 de dezembro de 1954, data centenária do Dogma da Imaculada,  com 19 colegas de todo o Brasil na Catedral de S.Paulo pelo cardeal Dom Carlos Mota.
1955 a 1964, secretário inspetorial. Reitor do Santuário do Sagrado Coração, hoje Basílica, em 1965. Depois, diretor dos colégios de Aracaju, Recife e Natal de 1966 a 1975. De maio de 1971 a janeiro de 1972, tive a grande felicidade de participar, em Roma, do maior Capítulo     Geral da história de nossa Congregação - sete meses- que teve a difícil tarefa de fazer novas Constitiuições.
Em 20 de abril de 1975, em Natal, fui sagrado bispo, para ser auxiliar de Aracaju. Cinco anos, de 1980 a 1985, fui bispo de Parnaíba e de 1986 a 2002 fui arcebispo de Maceió. Os três estados mais pobres do Nordeste: Sergipe, Piauí e Alagoas. Feito emérito em julho de 2002, ainda tive experiências pastorais bem interessantes e diversificadas: quatro meses, no Japão, com os brasileiros para lá emigrados; e depois, como Delegado do :Arcebispo Dom José Cardoso, seis anos em Fernando de Noronha. Por fim, o Padre Inspetor de então, Padre João Carlos, confiou-me a reitoria do nosso Santuário, para o qual consegui, com a ajuda de amigos em Roma, receber o título de Basílica.
Agora, ao partir para minha eternidade, deixo em Maceió a mais preciosa herança de minha vida salesiana. É a Fundação João Paulo II, gestora de cinco obras em favor da juventude pobre e abandonada, como queria nosso Pai.  A primeira é a CASA DOM BOSCO, fundada no primeiro aniversário da Visita Pastoral de João Paulo II a Maceió, destinada antes aos meninos-de-rua, os “cheira-cola”, hoje, para os adolescentes, vítimas do crack e outras drogas. É um belo prédio, com salão multi-uso, salas de aula, laboratório de informática, consultório dentário, quadra coberta, uma pequena piscina de plástico e uma criação de animais. Temos ainda a Casa Dona Assunta, a Casa Maria Amélia, a Casa “Totus Tuus”, uma pequena pousada para universitários pobres do interior e, por último, neste ano, recebemos como dádiva do céu, a Escola Carlo Novello, régio presente de uma família italiana.
Concluo aqui, rendendo graças ao bom Deus por ter-me chamado desde a adolescência à família de nosso Santo Pai, Dom Bosco, ao qual tudo devo como religioso consagrado, sacerdote e bispo da Igreja de Jesus.
Te Deum laudamus!

Dom Edvaldo G. Amaral SDB


“O HOMEM QUE NÃO QUERIA SER PAPA"




               Com esse sugestivo título, o jornalista alemão Andreas Englisch traça com clareza um aprofundado perfil da extraordinária figura do maior teólogo deste nosso século: Joseph Ratzinger, “o homem que não queria ser Papa”. É obra de demorada pesquisa, considerada por seus editores “uma narrativa envolvente, com paixão jornalística e meticulosa pesquisa.” Englisch mudou-se para Roma em 1987 e, desde então, trabalha com dedicação como jornalista especializado em assuntos do Vaticano.
                    Ele descreve com precisão a psicologia de Bento XVI, como professor universitário,  e escritor de grandes obras teológicas. Após uma experiência pastoral como arcebispo de
Munique e Freising de 1977 a 1981,  João Paulo II o chamou a Roma para confiar-lhe a difícil tarefa de Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional em 25 de novembro de 1981. Foi maldosamente  chamado por alguns de “o guardião da ortodoxia católica”.
                    Sabe-se que ele fez de tudo para não ser eleito Papa. Contígua à capela Sistina, onde o colégio cardinalício elege o novo Papa, há um aposento apelidado de “sala das lágrimas”, no qual o eleito troca a batina vermelha cardinalícia pela batina branca dos papas. O nome dessa sala caiu bem para o eleito no conclave de 2005. Acontece que a casa Gammarelli, que por tradição confecciona 3 batinas brancas para o final do conclave: uma pequena, uma média e uma grande, para atender à altura do possível eleito, daquela vez fez uma batina que ficou curta demais para o novo Papa. Era talvez um indicador de que ele não fora feito para aquela batina branca...
                    Suas primeiras palavras no balcão da basílica de S. Pedro são expressivas: “Após o grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, a mim, um humilde e simples operário da vinha do Senhor.” Nada de cardeal panzer, nem muito menos o papa que iria congelar a Igreja. Foi um pontificado sofrido, isso sim. Seu discurso na Universidade de Regensburg, com a citação do imperador bizantino sobre Maomé, trouxe-lhe amarga reação do mundo muçulmano. Com toda a humildade, ele confidenciou aos íntimos que poderia muito bem dizer aquilo como professor universitário, mas não como papa. Convidado pela Reitoria, a recusa dos estudantes da Universidade romana “La Sapienza” em recebê-lo, feriu profundamente o professor universitário que ele era. Seu pronunciamento sobre o uso de preservativos no combate a AIDS na África atraiu-lhe violentas reações. Seu discurso em Auschwitz sobre o extermínio dos judeus foi criticado com veemência. O perdão das excomunhões aos quatro bispos seguidores de Levefbre, sagrados sem mandato pontifício, incluiu o bispo Willianson por falta da informação de que esse bispo havia negado o holocausto judaico. Isso custou amargas queixas dos judeus ao sensível papa alemão. Ao mesmo tempo, Bento XVI foi mais contundente quanto aos padres pedófilos, especificamente da Irlanda – amarga herança que lhe deixou seu antecessor - também acolhendo com carinho as vítimas desses crimes em várias ocasiões.

                    Com sua humilde renúncia ao supremo pontificado, ficou claro ao mundo que Joseph Ratzinger é um “homem que não queria ser papa”...      

LIÇÃO PARA A EUROPA



                              Não são raros santos reis e rainhas, lembrados no calendário litúrgico da Igreja. Portugal venera com especial devoção sua “Santa Rainha”, como é chamada S. Isabel de Portugal, comemorada a 4 de julho. Temos com grande realce S. Luiz IX, rei da França, neste 25 de agosto. Certo historiador comentava, com uma ponta de ironia, que a “realeza francesa havia chegado a uma tal perfeição, que podia dar-se ao luxo de ter um santo como monarca”. Infelizmente, após Luiz XV, as coisas mudaram muito até a Revolução Francesa (1789), e as cabeças coroadas rolaram sob a lâmina da guilhotina. Além de Santa Isabel da Hungria,  17 de novembro, tivemos no dia 16 deste mês Santo Estêvão, também da Hungria. Sobre ele, sabemos que foi coroado rei da Hungria no ano 1000. Falecido em 1038, é chamado o “rei apostólico da Hungria”. Exerceu o cargo, dizem as crônicas, com sabedoria e empenho. Consagrou o reino à Virgem Maria, que ele chamava “a Grande Senhora”. Praticou com especial esmero a justiça para com os pobres, a quem ele pessoalmente evangelizava.              
Valioso presente enviou-me nesses dias meu amigo Dom Valério Breda. É a nova Constituição do Estado Húngaro, que contem algumas expressões dignas de nota, nesta hora em que a Europa esquece suas autênticas origens cristãs.
               A Lei Fundamental da Hungria, aprovada em 25 de abril de 2011, começa dizendo: “Deus abençoe os húngaros!” E no início da Profissão Nacional, afirma com clareza e convicção: “Nós, membros da Nação húngara, no início deste novo milênio, proclamamos o seguinte: Somos orgulhosos que o nosso Rei Santo Estêvão tenha construído o estado húngaro sobre sólidas bases e o tenha feito parte da Europa cristã, há mil anos atrás. Reconhecemos o papel do cristianismo em haver preservado a nação. Apreciamos as várias tradições religiosas de nosso país e prometemos preservar a unidade intelectual e espiritual de nossa nação, dilacerada pelas tempestades do século passado.” E mais adiante: “Consideramos que a família e a nação constituem a estrutura principal da nossa convivência e que os valores fundamentais de coesão sejam a fidelidade, a fé e o amor.”
Fica assim explicado por que os eurocratas, que no Tratado de Lisboa conseguiram eliminar qualquer referência às raízes cristãs da Europa, agora persigam a Hungria pela sua destemida declaração das origens cristãs do continente, que no século 16 foi o evangelizador do Novo Mundo e hoje está totalmente descristianizado.
Esta é uma boa lição para a Europa...

O IOR é necessário ou dispensável?



               Em primeiro lugar, vejamos sua origem histórica e finalidade. A sigla IOR quer dizer “Instituto para as Obras de Religião”. Não confundir com o Banco Ambrosiano, de Milão, com o qual o IOR infelizmente andou se envolvendo em operações pouco limpas nos tempos do arcebispo Marcinkus, organizador e espécie de chefe da segurança das viagens do Papa João Paulo II e, por isso, mundialmente conhecido. O IOR foi criado em 27 de junho de 1942, absorvendo a “Administração das Obras de Religião”, que havia sido instituída por Leão XIII em 1887. Foi reformado ainda pelo Beato João Paulo II em 1º de março de 1990. Sua finalidade é prover à guarda e administração dos bens móveis e imóveis, destinados  às obras de religião ou de caridade em toda a Igreja. Ele é controlado por uma comissão de cinco cardeais, presidida pelo Secretário de Estado, mas tem presidência própria.
               Em uma missa celebrada na Domus Sanctae Marthae, disse o Papa Francisco: “Estão aqui  alguns do IOR e que eles me desculpem, mas devo dizer que tudo é necessário, mas até um certo ponto. A Igreja não é uma ONG (organização não-governamental) mas é uma história de amor. Por isso, o IOR como os outros organismos vaticanos são necessários como ajuda a essa história de amor. Quando a organização toma o primeiro lugar e desaparece o amor, a Igreja, pobrezinha, torna-se uma ONG, isto é, vira uma burocracia e perde sua principal característica, que é o amor.” Em 24 de junho, o Papa havia criado uma comissão de inquérito, presidida pelo Cardeal Rafael Farina, salesiano, mais o Card. Jean Louis Touran, já membro da comissão anterior do IOR, Don Juan Ignacio Arrieta, jurista, do Opus Dei, Mons. Peter Bryan e a Profª  Mary Ann Glendon. Esta comissão foi recebida pelo Papa em 10 de julho, juntamente com o presidente do banco, Dr. Ernest Von Freyberg, nomeado ainda por Bento XVI em 15 de fevereiro deste ano, pouco antes de sua renúncia.
               Em longa entrevista ao l´Osservatore Romano, Dr. Freyberg definiu o IOR como um serviço à Igreja no mundo. E especificou que o banco do Vaticano, em favor das dioceses, congregações e instituições católicas, tem 19.000 clientes em todo o mundo e gerencia cerca de sete bilhões de euros. “Esses fundos – esclareceu o presidente do IOR – são postos inteiramente a serviço da Igreja Católica e usados para hospitais, clínicas, missões e escolas nas regiões pobres. Seu propósito é garantir o sistema interno de uma instituição financeira de alto nível, com tolerância zero às atividades ilegais.” Finalizou afirmando com ênfase: “Nossos clientes não querem que o IOR feche; não desejam dirigir-se a outras instituições financeiras. Nosso maior desafio atual é eliminar todas as sombras e deixar resplandecer o Evangelho.”
               O diretor do IOR Paolo Cipriani e seu vice Massimo Tulli pediram demissão em 1º de julho e suas funções foram assumidas interinamente pelo próprio Presidente Von  Freiberg.
O Mons. Nunzio Scarano foi detido pelas autoridades policiais, quando tentava levar para o território italiano milhões de euros em avião particular, para não os declarar na alfândega. O Vaticano congelou seus ativos.
               “Não creio que a Igreja possa não ter uma organização administrativa, que torne fatível sua missão” – afirmou o arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer, em entrevista ao jornal romano “Il Messaggero”. E continuou: “O IOR não é um banco, mas é um instituto com finalidades específicas de serviço. A questão não está tanto em possuir meios, mas na forma como são geridos: Decoro, honestidade, transparência, serviço”.
               Acho que nesses quatro termos do Card. Scherer estão resumidas, com clareza e objetividade, a razão de ser e a forma de operar do banco do Vaticano, o agora combatido IOR.