quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"Os Judeus do Papa"

                É de Gordon Thomas  o livro que dá título a este artigo. Trata-se de jornalista  investigativo inglês, com mais de 50 livros publicados, num total de mais de 45 milhões de cópias. É de impressionante competência, nos assuntos tratados no livro, a lista de pesquisadores com que ele abre essa obra jornalística. O alentado volume, de 379 páginas, foi publicado no Brasil pela Editora Geração, e tem por objetivo esclarecer de uma vez por todas – e o consegue com profundidade e clareza – o papel  secreto, prudente, diplomático e eficiente do Papa Pio XII,  na questão dos judeus, particularmente os de Roma, perseguidos  pela insana barbárie nazi-fascista. A leitura do livro – e, diria melhor, seu estudo aprofundado – é imprescindível para todos aqueles, que se interessam por conhecer a verdade dos fatos, desse período sombrio da história contemporânea, que cobriu nossa civilização de “suor, lágrimas e sangue”, na conhecida expressão de Wiston Churcill.
 O autor, na introdução do livro, transcreve a declaração do gênio da física,  Albert Eisntein, judeu, à revista TIME no Natal de 1940: “Somente a Igreja Católica se colocou no caminho da campanha de supressão da verdade, promovida por Hitler. Ela, sozinha, teve a coragem e a persistência de defender a verdade intelectual e a  liberdade moral.” Gordon Thomas cita ainda uma carta escrita em 1943 por Chaim Weizmann, depois primeiro presidente do  Estado de Israel, em que ele agradece o apoio dado pela Santa Sé, ao oferecer ajuda poderosa para atenuar os sofrimentos de seus irmãos na fé. Mons. Magee  em conversa com o autor chamou de “calúnias ignóbeis” as acusações contra Pio XII de omissão na defesa dos judeus.
                Fica claro que depois da condenação do nazismo pela “Mit brennender Sorge” de Pio XI, seu secretário de Estado e sucessor, Eugênio Pacelli, Pio XII, só devia agir como ele fez, na defesa e proteção dos judeus. Outra encíclica, repetindo a condenação do  nazismo e sobretudo sua política racial, pareceu ao novo Pio desnecessária, inoportuna e ineficaz. Ele optou pela ação, protegendo aos milhares, particularmente judeus do guetto de Roma. Determinou escondê-los nos conventos, sobretudo  femininos, mais inacessíveis, mais resguardados, e ajudou-os na  manutenção e fuga com segurança para fora da Europa.
                Em 30 de novembro de 1938, após a famosa Kristallnacht (Noite dos cristais), em que a fúria nazista queimara sinagogas, casas e lojas de judeus em toda a Alemanha, começou o plano de Pacelli para salvar os judeus na Alemanha. Enviou uma mensagem urgente e codificada aos bispos da Igreja alemã, conseguindo que milhares de judeus saíssem da Alemanha nazista. Os números reais permaneceram em segredo até 2001 – informa Gordon – quando se soube  que  pela ação dos bispos, convocados por Pacelli duzentos mil judeus conseguiram sair da Alemanha nas semanas seguintes à Kristallnacht.

                  A História ainda fará justiça à figura corajosa e intrépida do Papa Eugênio Pacelli.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

COMO E POR QUE SOU SALESIANO




Depoimento


Não me lembro do tempo em que não quis ser padre. Desde a primeira infância, pensava em ser padre, professor e jornalista.Como salesiano, exerci o magistério nos três colégios, onde fui diretor.  e ainda como bispo, dei aulas no Seminário de Maceió. E nem depois de bispo emérito, deixei de dar um cursinho lá e cá. Em Noronha e no Recife.                  Jornalista, fui a vida toda. Fiz alguns cursos breves de jornalismo, rádio e televisão, inclusive na famosa Escola Gásper Líbero de São Paulo. Tive algumas oportunidades raras nesse campo. Participei de duas tardes do Festival de Cinema de Veneza, levado pelo amigo Marco Bongiovanni., Como turista, já bispo, visitei Hollywood, a Meca do cinema mundial. Mas, no campo do jornalismo, o importante mesmo foi dirigir por nove anos a revista “Cooperador Salesiano” e, depois, como emérito, criei o boletim da ADMA e, ainda, o boletim “Santuário”, que após  nossa igreja ter recebido o título de Basílica, passou a chamar-se “O Semeador”. Hoje escrevo um artigo quinzenal para a GAZETA DE ALAGOAS, para O SEMEADOR de Maceió, e eventualmente, algum artigo meu é publicado na Coluna das religiões do Jornal do Commercio, aqui no Recife.
Mas o sentido de minha vida está todo no sacerdócio salesiano. Ao concluir o curso primário, como se chamava então, com 10 anos, procurei, como era natural, ingressar no Seminário de Olinda. As despesas eram exorbitantes. Além de um longo enxoval para entrada, havia a aquisição de duas batinas, que eram de uso diário e uma taxa mensal.  Papai estava desempregado, porque a firma onde ele trabalhava falira. Era a Lafaiette, fabricante de cigarros, que tinha uma loja de vendas de seus produtos na esquina da 1º de março com a rua do Imperador, onde Papai era gerente e, pela importância daquele local, era bem conhecido no Recife.   Acontece que como aluno do Colégio Moderno em Afogados, tinha um professor, secretário e responsável maior do colégio. Era o professor era Estácio Antunes, ex-salesiano e muito amigo de um seu antigo colega, o Padre Aécio Polla, diretor do Colégio Salesiano do Recife. Um belo dia, Prof. Estácio perguntou-me: “Você quer ser padre salesiano?” Pedi três dias para pensar e respondi que sim. E foi assim que no dia histórico da morte do Papa Pio XI, o Papa de Dom Bosco, 10 de fevereiro de 1939, em companhia de meu amigo, Luiz Marinho Falcão, ingressei no aspirantado de Jaboatâo.
No ano seguinte, o aspirantado transferiu-se para o Colégio do Recife. Voltei para o noviciado em Jaboatão em 1943 e aí, no dia 31 de janeiro de 1944, fiz meus primeiros votos religiosos. Assim, se chegar lá, no próximo 31 de janeiro, estaria completando 70 anos de profissão, já o mais antigo de votos de nossa Inspetoria.
Em Natal, cursando o primeiro ano de filosofia, tive uma forma benigna de tuberculose pulmonar: infiltração nos hilos dos dois pulmões, daí se irradiando para os ápices. Vim ao Recife tratar-me com o Dr. Miguel Archanjo, que daí em diante, tornou-se grande amigo do colégio. 1945 foi meu ano de tirocínio em Cajazeiras, onde era vice-assistente e secretário do colégio. Em 1946, voltei para o Recife e, finalmente, de 1947 a 1949 fui para a casa de repouso de São José dos Campos, onde tive a grande graça de conviver com o santo Padre Rodolfo. Nestes três anos, estudava filosofia e prestava exame de cada tratado concluído.
Fiz votos perpétuos em janeiro de 1950 e durante o ano, o tirocínio. Meus felizes anos de teologia foram de 1951 a 1954, no Instituto Teológico Pio XI da Lapa. Fui ordenado em 8 de dezembro de 1954, data centenária do Dogma da Imaculada,  com 19 colegas de todo o Brasil na Catedral de S.Paulo pelo cardeal Dom Carlos Mota.
1955 a 1964, secretário inspetorial. Reitor do Santuário do Sagrado Coração, hoje Basílica, em 1965. Depois, diretor dos colégios de Aracaju, Recife e Natal de 1966 a 1975. De maio de 1971 a janeiro de 1972, tive a grande felicidade de participar, em Roma, do maior Capítulo     Geral da história de nossa Congregação - sete meses- que teve a difícil tarefa de fazer novas Constitiuições.
Em 20 de abril de 1975, em Natal, fui sagrado bispo, para ser auxiliar de Aracaju. Cinco anos, de 1980 a 1985, fui bispo de Parnaíba e de 1986 a 2002 fui arcebispo de Maceió. Os três estados mais pobres do Nordeste: Sergipe, Piauí e Alagoas. Feito emérito em julho de 2002, ainda tive experiências pastorais bem interessantes e diversificadas: quatro meses, no Japão, com os brasileiros para lá emigrados; e depois, como Delegado do :Arcebispo Dom José Cardoso, seis anos em Fernando de Noronha. Por fim, o Padre Inspetor de então, Padre João Carlos, confiou-me a reitoria do nosso Santuário, para o qual consegui, com a ajuda de amigos em Roma, receber o título de Basílica.
Agora, ao partir para minha eternidade, deixo em Maceió a mais preciosa herança de minha vida salesiana. É a Fundação João Paulo II, gestora de cinco obras em favor da juventude pobre e abandonada, como queria nosso Pai.  A primeira é a CASA DOM BOSCO, fundada no primeiro aniversário da Visita Pastoral de João Paulo II a Maceió, destinada antes aos meninos-de-rua, os “cheira-cola”, hoje, para os adolescentes, vítimas do crack e outras drogas. É um belo prédio, com salão multi-uso, salas de aula, laboratório de informática, consultório dentário, quadra coberta, uma pequena piscina de plástico e uma criação de animais. Temos ainda a Casa Dona Assunta, a Casa Maria Amélia, a Casa “Totus Tuus”, uma pequena pousada para universitários pobres do interior e, por último, neste ano, recebemos como dádiva do céu, a Escola Carlo Novello, régio presente de uma família italiana.
Ao completar neste 31 de  janeiro de 2014 70 anos de consagração religiosa, rendo graças ao bom Deus por  ter-me chamado desde a adolescência à família de nosso Santo Pai, Dom Bosco, ao qual tudo devo como religioso consagrado, sacerdote e bispo da Igreja de Jesus.
Te Deum laudamus!



terça-feira, 5 de agosto de 2014

Homossexual e católico

Tema realmente espinhoso e difícil de ser abordado, sem ferir suscetibilidades pessoais e normas da moral, é esse do homossexualismo. A revista MARIA AUSILIATRICE, de  Turim, norte da Itália, divulgou em sua edição de julho/agosto deste ano, interessante entrevista com o jovem Philippe Ariño  que, sobre o tema publicou um livro que causou grande impacto, com o título: “Homossexualismo contra a corrente.”
Ariño nasceu na Espanha há 34 anos e vive em Paris, onde ensina espanhol e comunicação. Depois de ter vivido uma série de experiências  e relacionamentos, há três anos deixou o companheiro com quem vivia e,  como diz no subtítulo de seu livro, passou a “viver conforme  a Igreja e ser feliz”.
Disse ele à revista salesiana de Turim: “O mundo não se divide entre homosexuais de um lado e heterosexuais do outro, mas sim entre homens e mulheres. A homossexualidade é o sinal do não encontro entre o homem e a mulher e a ruptura dos homens com Deus. É uma ferida que eu escolhi denunciar, para ajudar as pessoas homossexuais a sair do sofrimento da prática da homossexualidade e as pessoas heterossexuais a compreender que a prática da homossexualidade não é outra coisa senão a incapacidade de amar-se na diferença dos sexos.”
                Sobre o impacto que a divulgação de sua nova atitude diante do sexo está causando, ele explicou: “Eu deixei aquele comportamento não por falta de algo melhor,  uma desilusão amorosa ou espécie de orgulho de praticar atos que a moral cristã condena. Deixei porque aqueles atos não me bastavam e hoje, ao invés, a continência me satisfaz totalmente. Não é  o número das escolhas amorosas que determinam o grau de nossa  felicidade, mas sim a escolha integral por uma única pessoa, seja ela o que chamam de sexo oposto, ou seja  Jesus Cristo.”
                E com vigor, ele explica: ”Propor o caminho da continência a uma pessoa homossexual, sem convencê-lo da presença de Jesus na sua vida, que Ele existe, é nosso amor e nossa segurança, equivale a dar-lhe uma corda para enforcar-se.”
                Sobre seu papel na Igreja hoje, esclarece: “Minha condição atual me permite desempenhar um papel, que nenhum padre ou religioso poderia realizar. Tenho visto nos debates e nas palestras que realizo, que meu testemunho pessoal de homossexual, hoje continente,  causa grande impacto nos jovens, nos menos jovens e nos religiosos. Eu, pobre  leigo sem valor, constato que recebi de Deus um carisma especial de libertação para alguns pregadores na Igreja que não teriam exemplos concretos de homossexuais continentes.”
                A revista salesiana de Turim conclui fazendo notar: “Teu testemunho parece não excluir a santidade...”  Ao que, Ariño respondeu: “Sem dúvida! É que Deus se serve de qualquer madeira para acender o fogo. Mirar à santidade significa  apontar para a perfeição e ser santificados por Alguém infinitamente maior que nossas ações e nossos méritos. Estou convicto que se abrirmos nosso coração para acolher o ‘escândalo’ da cruz de Cristo e da virgindade fecunda de Maria, seremos todos – homossexuais ou não – SANTOS!”