sábado, 4 de janeiro de 2014

CREMAR OU DOAR?

Há poucos dias atrás participei aqui no Recife da cerimônia fúnebre de um líder cristão, cuja vida foi toda dedicada à Igreja. Após a Santa Missa, a que presidi, um sacerdote fez a encomendação e, para admiração minha, ele anunciou que, em seguida, o corpo seria cremado no crematório daquele cemitério.
 Está ficando cada vez mais difícil encontrar espaço nos cemitérios públicos para os sepultamentos das pessoas queridas. Por isso, a solução, já tornada comum, tem sido a cremação. A Igreja, de início, fez certa objeção a esta prática, por interpretá-la contrária à verdade de fé da ressurreição da carne. Hoje ela reconhece a necessidade desse procedimento e não tem nada em contrário. Aliás, no ritual Nossa Páscoa, editado pela CNBB em 2003, encontra-se já o rito próprio para a encomendação no crematório.
Mas, além da cremação, há outra forma de destinação dos restos mortais de um falecido. È a doação do corpo, feita em cartório, pela própria pessoa, para ser doado, logo após a morte, para uma escola de medicina para  estudo da anatomia humana. No Brasil, há uma falta enorme nas escolas de medicina e, especificamente nos cursos de anatomia, de cadáveres para estudo dos alunos. A Revista VEJA em junho de 2012 publicou um artigo sobre o assunto. Informa que algumas escolas estão utilizando bonecos de plástico, mas alguns professores se recusam a dar aulas que não sejam com cadáveres humanos. Informa ainda a revista que a Universidade de São Paulo, a maior do país, em 2011, havia recebido apenas quinze corpos, treze deles não reclamados pela família e apenas dois doados em vida Traz a revista o belo testemunho de uma senhora gaúcha, que diz: “Meu corpo não servirá para nada depois que eu morrer. Com a doação, estarei ajudando futuros médicos que salvarão vidas.”
A doação gratuita de órgãos ou do corpo inteiro post mortem no Brasil está regulamentada pela lei 9434, de 4 de fevereiro de 1997. O doador deve fazer a escritura pública em cartório, com duas testemunhas.
Na Congregação Salesiana, há o belo exemplo do Padre Olímpio Gabriel Martins Ferreira, ordenado sacerdote na turma de 8 de dezembro de 1954, na Catedral de São Paulo, e falecido em 2 de janeiro de 2006 em Belo Horizonte. Pe. Olímpio, bisneto do Barão de Ingaí, neto do fundador do Banco da Lavoura de Minas, depois Banco Real, e filho de médico e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, doou seu corpo, após a morte, à Universidade Católica de Minas Gerais. Seus irmãos de Congregação cumpriram cuidadosamente seu desejo.

Cremar ou doar – qual a melhor opção?

A alegria do Evangelho

“Fica abolida a lei do celibato também para os padres do Ocidente” – “As mulheres  podem ser ordenadas sacerdotisas” – “O aborto é permitido”  ??? - Os jornalistas  chamados “vaticanistas”, que sabem as coisas do Vaticano fora dos muros, terão ficado decepcionados com  a Exortação Apostólica pós-sinodal, a primeira do Papa Francisco, “Evangelii Gaudium”( A Alegria do Evangelho) sobre a evangelização hoje, comentando os pontos discutidos pelos Bispos no último Sínodo, de 2012, sobre a nova evangelização. Nada das inovações estrondosas, com que iniciei este artigo e  que alguns pretendiam e chegaram a anunciar, que o Papa Francisco iria fazer...
“A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio. Quero convidá-los para uma nova  etapa evangelizadora, marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.  Os males do nosso mundo – e os da Igreja – não deveriam servir como desculpa para reduzir a nossa entrega e o nosso ardor” – inicia o bispo de Roma seu primeiro documento pastoral, após a Encíclica sobre a Luz da Fé, feita em conjunto com Bento XVI.
“Precisamos – continua o Papa Francisco – recuperar o frescor original do Evangelho com novas formas e métodos criativos. Desejo dirigir-me aos fiéis cristãos para convidá-los a uma nova etapa de evangelização, marcada por esta alegria, num estado permanente de  missão, vencendo o grande risco do mundo atual, que é o cair numa tristeza individualista”. “Sinal do acolhimento de Deus – continua a Exortação -  é ter por todo lado igrejas com as portas abertas, para que aqueles que estão à procura não encontrem a frieza de uma porta fechada. A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso remédio e alimento para os fracos. Somos chamados a agir neste campo com prudência e audácia.”
Longo trecho, dos números 135 a 162, o Santo Padre dedica à homilia e à leitura espiritual, de grande interesse para todos os sacerdotes e ministros da Palavra. Sobre a catequese (nºs 163-168), o Papa quer evidenciar que ela tem como papel fundamental o primeiro anúncio, o querigma, e deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e toda tentativa de renovação eclesial. Com força e audácia o Papa fala de uma reforma das estruturas eclesiais para que se tornem mais missionárias. E ele pensa também numa reforma do papado para que ele seja mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe quis dar (n. 32).
A inclusão social dos pobres, ensina o pontífice, deriva de nossa fé em Cristo que  se fez pobre e sempre se aproximou dos pobres e marginalizados. Curiosamente, o Papa cita um documento dos Bispos do Brasil, que é um reflexo do Concílio: “Desejamos   assumir a cada dia as alegrias e esperanças, as angústias e tristezas do povo brasileiro, especialmente as populações das periferias urbanas e das zonas rurais.” “Para a Igreja, diz Francisco, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica.”
O bispo de Roma nos exorta a recuperar o frescor original do Evangelho com novas formas e métodos criativos. Precisamos, diz ele, de uma conversão missionária e pastoral e não podemos deixar as coisas como estão.                    

             Concluo com essa expressão vigorosa do Papa Francisco: “A Igreja proclama o evangelho da paz e está aberta à colaboração com todas as autoridades nacionais e internacionais para cidar desse bem universal tão grande.”

RETROSPECTIVA 2013

Retrospectiva é observação ou análise de tempos ou coisas passadas – diz o Aurélio. Já o filósofo Santayana sentencia: “Os que não podem recordar o passado estão condenados  a repeti-lo.”A história da Igreja a tem levado sempre a refletir sobre erros e vitórias do passado e o ano que termina teve pelo menos três grandes momentos que pretendo recordar aqui.
A renúncia ao supremo pontificado do santo e sábio Papa Bento XVI, anunciada no final do concistório de 11 de fevereiro e  consumada às 20 horas do dia 28 daquele mês, marcou sem dúvida a história desse ano. Era o homem “que não queria ser Papa” na expressão do jornalista Englisch. E, na véspera do dia de sua renúncia, ele afirmou: ”Amar a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo sempre diante dos olhos o bem da Igreja e não a nós mesmos”. Comentou a jornalista Silvia Guidi: “Talvez não haja frase mais incompreensível para a mentalidade atual, caracterizada pela obsessão do poder em todos os níveis”. O último e único Papa que propriamente renunciou foi S. Celestino V em 1294.
O segundo grande acontecimento do ano foi a eleição do Papa Francisco (Cardeal Jorge Mário Bergoglio) em 13 de março. O primeiro latino-americano  a ser eleito papa, o primeiro jesuíta e o primeiro a tomar o nome de Francisco. “Simplicidade, pobreza e autenticidade” são marcas características do novo Papa, logo em suas primeiras comunicações com o povo – disse o reitor-mor dos Salesianos,  Pe. Chavez. Na primeira encíclica “A Luz da Fé”, por ele assinada, Francisco esclarece que o Papa emérito Bento XVI já tinha quase concluído o esboço desta carta encíclica sobre a fé. “Na fraternidade de Cristo assumo seu precioso trabalho, limitando-me a acrescentar ao texto alguma nova contribuição” – declarou ele.
A linha pastoral do Papa Francisco ficou clara para todo o mundo em sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”  (A alegria do Evangelho) . Nela, ele propõe reforma das estruturas eclesiais para que se tornem mais missionárias. Ele trata de uma “conversão do papado”, para que ele seja mais fiel ao significado, que Jesus Cristo lhe quis dar e às necessidades atuais da evangelização. Sobre a Mulher, declara Papa Bergoglio: “Há necessidade de ampliar o espaço para uma presença feminina mais incisiva na Igreja, nos postos onde são tomadas importantes decisões.” Sua pregação ordinária realiza-se, além das audiências gerais das quartas-feiras e da recitação do “Angelus” aos domingos, - o que faziam todos os Papas anteriores – o sermão diário de suas missas na Casa Santa Marta, onde escolheu residir, deixando o Palácio Apostólico do Vaticano, e que é divulgado pela imprensa.  O interesse que o Papa Francisco desperta na mídia  mundial evidenciou-se pela sua promoção ao “Homem do Ano” da revista Time.
O terceiro grande acontecimento eclesial do ano foi, sem sombra de dúvida, a realização no Rio de Janeiro da Jornada Mundial da Juventude, de 22 a 29 de julho. Foi um evento de proporções planetárias e o primeiro encontro do novo Papa com bispos do mundo inteiro e o povo, com que tão bem se identificou. Jovens de mais de cem países, milhares de sacerdotes e bispos deram ao evento o significado de uma presença da Igreja no Brasil para o mundo.

Ano de bênçãos e de graças para toda a cristandade foi este ano que termina.