quinta-feira, 16 de maio de 2013

A BÍBLIA PRATICADA


         Quero sugerir a meus leitores algumas indicações do uso da Palavra Divina em certas situações da vida, inspirando-me livremente num artigo da revista “Sacro Cuore” dos Salesianos de Bologna-Itália.

            O cristão que deseja viver com realidade a Santa Palavra de Deus, deve dizer cada dia:
            Hoje vou me comprometer a...
            1º - Não responder de maneira agressiva, quando for importunado com maldade, mas, antes, procurarei responder com doçura e bondade (Confronte Rom 12,17-21).
            2º - Pedir a Deus  abençoar meus inimigos. Se alguém me tratar com injustiça – seja quem for – pedirei a Deus que o abençoe (Cfr. Luc 6,28).
            3º - Vigiar atentamente as palavras que direi. Antes de falar, refletirei e sobretudo, não   divulgarei fatos, que possam prejudicar meu próximo ( Cfr. Mc 7,21-23).
            4º - Ir além do estritamente necessário. Deter-me-ei sobre as necessidades daqueles que estão ao meu lado e estarei pronto a escutá-los com paciência e atenção (Cfr. Luc 10,30-37 e Rom 12,10).
            5º - Perdoar. Perdoarei prontamente quem hoje me ferir e o que ontem me causou mágoa e de que guardo rancor, procurarei logo esquecer e desculpar (Cfr. Mt 18, 21-22).
            6º - Fazer com discreção um gesto gentil e ajudar anonimamente, abençoando com voz reconhecida (Cfr. Mt 6, 1-4).
            7º - Tratar os outros como gostaria que me tratassem a mim (Cfr. Tobias 4, 15).
            8º - Elevar o ânimo de quem estiver desanimado. Com minha alegria,  meu sorriso,  minhas palavras de encorajamento, minha oração silenciosa, hoje ajudarei quem estiver em depressão ( Cfr. Rom 12,15).
            9º - Cuidar bem de meu corpo. Não comer demais, não beber demais, além da água, sempre necessária, não dormir demais, não ter vida sedentária, mas procurar sempre  movimentar-me e trabalhar bastante na medida máxima de minhas forças e de minha idade (Cfr 1 Cor 9, 24-27).
            10º - Acima de tudo, quero me empenhar a crescer espiritualmente. Para isso, vou  dedicar mais tempo a ler ou ouvir a Palavra de Deus. Em lugar tranqüilo e sossegado, falarei com o Pai Celeste em oração (Cfr Luc 10, 38-42).

            Certamente, que sendo fiel a esses compromissos, não sobrará muito tempo para perdê-lo diante da televisão, em conversas fúteis e prejudiciais a si e aos outros, nem em leituras que só levam para o mal.





A PAZ DO MUNDO E A PAZ DE JESUS


             O 10 de maio de 1945 foi proclamado o Dia da Paz. Três dias antes, os aliados ocupavam Berlim e o governo nazista se rendia, sem condições. Era o fim da guerra na Europa. A Alemanha dividida entre as chamadas quatro grandes potências vencedoras da guerra: Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra e França (?). Também a França, que fora invadida e fizera um pacto com o vencedor da hora, a Alemanha nazista...
Festa em todo o mundo naquele 10 de maio. Eu estava em Cajazeiras, na Paraíba, como clérigo assistente e professor no Colégio Salesiano Padre Rolim. Desfile escolar, concentração na praça principal da cidade,  discurso pelo Padre Bartolomeu de Barros Almeida SDB, vice-diretor do Colégio. Era a Paz...
          Mas era a paz, que enviava todo o poderio bélico, sobretudo americano, para o Oriente, contra o Japão. Mais raides aéreos sobre Tóquio, a linda capital japonesa, já quase toda destruída. Era a paz da bomba atômica, que no dia 6 de agosto daquele ano de 1945, destruiu em minutos a cidade de Hiroshima e três dias depois, fez o mesmo em Nagasaki, e ameaçava fazê-lo nos dias seguintes em mais oito cidades japonesas. Dia 15 de agosto daquele ano, o Imperador japonês aceitava a rendição incondicional, assinada diante do General Mac Arthur, americano, a bordo de um porta-aviões, por um general japonês, que caminhava com dificuldade, apoiando-se numa bengala.
Era a paz, ditada pelo vencedor bélico, que assumiu o governo do Império do Sol Nascente. Essa era a paz da guerra fria, do muro de Berlim, dividida em duas, como o restante da Alemanha. Era a paz das ogivas nucleares soviéticas, apontadas para as cidades americanas, com o nome estampado em seu bojo. A paz da guerra da Coréia, ainda hoje dividida em duas, a do Norte, comunista, e a do Sul, aliada dos Estados Unidos. A paz da guerra da Indochina, que se libertou do domínio francês e se dividiu em Laos, Cambodja e Vietnam, logo também dividido em dois, para ser o grande atoleiro dos Estados Unidos, metido numa guerra sem fim, sem sentido e sem objetivo, como tantas outras e outras, que se seguiram. Como essas duas últimas do Golfo Pérsico e a do pobre Afeganistão, que serviu apenas para mostrar ao mundo toda sua miséria e atraso. Essa é a paz do miundo, a paz das guerras.
E Jesus proclama: “Eu vos dou a paz, a minha paz. Não como o mundo a dá.” Como é essa paz de Jesus? É a paz do íntimo da consciência, a paz do homem consigo mesmo, a paz da ordem e da tranqüilidade interior. É a paz com os   irmãos, com todos os irmãos, a paz do amor, do perdão, da não-violência, a paz para os pobres, os ignorantes, os sem-força, os desprotegidos, os marginalizados de toda espécie pelo mundo. É a paz com Deus, na retidão da consciência, a paz dos que só procuram o bem, só estão preocupados em servir a Deus no seu irmão com fome, sem-terra, sem-teto, no menino-de-rua sem lar, sem escola, sem amor, os prediletos de Deus.
Essa é a paz verdadeira, que Jesus nos dá e o mundo não nos  pode tirar. É essa paz que o cristão ambiciona. É para essa paz que devemos lutar e sofrer cada dia.

Recife, 8/09/2004

quinta-feira, 9 de maio de 2013

LUTERO - o filme e a História


                Saboreando ainda nossos estudos de História Eclesiástica no querido Instituto Salesiano Pio XI, de São Paulo,  escrevi sobre Lutero quatro artigos, publicados em nossa GAZETA DE ALAGOAS, em minha coluna semanal das sextas-feiras, em 21/01, 28/01, 04/02 e 11/02. Esses artigos foram provocados pelo filme, de evidente conotação publicitária, patrocinado que foi – ao menos em sua exibição aqui no Brasil – pela organização DIACONIA, a versão luterana da católica ADVENIAT. Para o nosso SEMEADOR, quero resumir num único artigo o que interessaria dizer sobre o fundador do Protestantismo.

            Vou comentar as observações que o  Prof. J. L. Delgado fez sobre o filme num seu artigo, publicado no Jornal do Commercio do Recife em 30 de janeiro. Ele chama de três lições, que seriam as seguintes: 1ª - a marcha da insensatez, como ele classifica  a situação moral grave da Igreja no tempo de Lutero; 2ª - a escalada das radicalizações entre Alemanha e Roma; e por fim, a 3ª, o mistério da Igreja, que ele diz que, sendo divina, sobrevive a todas as calamidades de sua atribulada história.e vence todos os percalços, erros e escândalos.

            A propósito da lª observação, lembro que por dois séculos, ouviu-se na Igreja o brado: “Reforma na Cabeça e nos membros!” Os três papas do período anterior a Lutero foram  Alexandre VI (1492-1503), que deixou péssima fama quanto à sua moralidade, ao menos antes do papado, como  militar com 4 filhos,  apesar de ter iniciado as missões no Novo Mundo e, como espanhol, ter realizado, num solene exercício do Supremo Pontificado, a famosa divisão das terras a descobrir na  América entre Espanha e Portugal, muito favorável à Espanha, depois reformada  pelo Tratado de Tordesilhas (1494); Júlio II (1503-1513), grande guerreiro, conquistador de cidades e pouco pontífice, ainda considerado um bom papa; e Leão X (1513-1521) um Médici, filho de Lourenço, o Magnífico, de Florença, que até tinha boas intenções, mas pensava equivocadamente que seu apoio às artes e a construção daquela que ele denominava “a Catedral da Cristandade”, a Igreja de São Pedro no Vaticano, resolveriam os graves problemas morais e disciplinares da Igreja. Em 1510, quando Lutero esteve em Roma ainda se falava muito – e mal – de Alexandre VI, e o monge agostiniano se escandalizou com as indulgências, o culto das relíquias e o proceder da Cúria romana.

            Na 2ª lição de  J. L. Delgado, eu acrescentaria a divulgação do famoso documento intitulado “Gravamina nationis germanicae” (Os agravos, desgostos, da nação germânica), que eram as queixas da Alemanha contra a Igreja de Roma. Juntou-se a esse fato a rivalidade entre as duas mais importantes Ordens religiosas da época: agostinianos e dominicanos. Seus mestres, entre os quais Lutero, brilhavam nas cátedras de teologia. “Havia frades demais” - diz com sarcasmo um historiador da época. Daí resultou o famoso comentário em Roma, diante das primeiras notícias da crise na Alemanha, “isso não passa de uma querela de frades...” Foi assim que veio a idéia, algo irônica, de reunir o Concílio que daria a autêntica reforma da Igreja, em Trento, “in faucibus Germaniae” - nas fauces (ou goela) da Alemanha... O Concílio, hoje ignorado por muitos, proclamou com firmeza os dogmas católicos e, com intrepidez, realizou a suspirada reforma moral, esperada há séculos...

            Belíssimo o comentário final que o ilustre professor e articulista tece, na que ele chama 3ª lição, da inexpugnabilidade da Igreja de Cristo, não obstante a reconhecida fraqueza histórica de alguns de seus líderes. Continua de pé a palavra de Jesus: “As portas de Hades (a potência da Morte e da destruição) não prevalecerão sobre minha Igreja” (V. Mt 16, 18) e: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20) Todos os dias. Os bons e os maus.

            A complexa personalidade de Lutero (1483- 1546) foi definida por um historiador sério e isento: extraordinária força de imaginação – veemente paixão em seus empreendimentos – ternura de afetos – linguagem virulenta – sensibilidade poética e musical – arroubos místicos e ódio implacável ao papado e a Roma – sugestionabilidade e teimosia – exaltações e depressões – pavor doentio do diabo e da condenação eterna, de que se julgava merecedor, como confessou à esposa, a ex-freira  Catarina de Bora.        

            Esse foi o Lutero – monge, teólogo, pretenso reformador da Igreja e agitador social.