Cresci ouvindo
falar da “Grande Guerra”, que neste 28 de julho completa cem anos de seu
início. Só mais tarde, com a guerra mundial de 1939-1945, mais devastadora do
que ela, tomou o nome de “Primeira Guerra Mundial”. Foram 15 milhões de mortos, em grande
parte soldados. A gripe espanhola, que lhe seguiu, infectou um
terço da população mundial e matou 50 milhões de pessoas, portanto, mais que
três vezes a guerra em si.
Eu teria podido
participar da Segunda Guerra, se o Brasil tivesse enviado a 5ª Expedição
em 1945, quando completei os 18 anos para o alistamento. Mas no início daquele
ano, a guerra já estava definida em favor dos aliados com a derrota total do
nazismo.
Convivi, porém, com
três participantes da Primeira Guerra Mundial, que tiveram grande importância
na minha vida de seminarista e marcaram profundamente minha formação
sacerdotal-salesiana.
O primeiro deles foi
o Padre Guido Barra, que fora oficial do exército italiano e, que entre outras
coisas, nos falava da imensa dificuldade de comunicação com seus subalternos,
usando as primitivas e rudimentares máscaras contra gazes tóxicos, empregadas
na guerra de fronteira, que marcou o estilo do conflito. Com o advento do
fascismo, ao qual ele se opunha, os Superiores julgaram por bem enviá-lo para o
Brasil, onde foi diretor do Colégio Salesiano de Belém, Provincial do Nordeste
e depois do Mato Grosso e, finalmente,
membro do Conselho Geral da Congregação Salesiana. Foi ele quem me aceitou no
noviciado e recebeu meus primeiros votos religiosos.
O segundo
ex-combatente que conheci foi o Pe. Angelo Visentim, meu mestre de noviciado.
Quando lhe perguntávamos se ele havia matado alguém na guerra, ele respondia
que não podia saber, porque sua missão eram o manejo dos canhões, cujo alvo
estava bem distante.
O terceiro foi o
santo Pe. Rodolfo Komorek, com quem convivi três abençoados anos, os últimos de
sua vida, em S. José dos Campos, S.P. Em 1914, sacerdote da diocese polonesa de
Bieslsko, ele solicitou sua aceitação como capelão militar no exército
austríaco. Por dois anos, serviu no Hospital de Cracóvia e, por seu trabalho, foi
agraciado com a distinção da Cruz Vermelha. Pediu depois para ir para o front e
em 5 de maio de 1916, recebeu a Cruz Espiritual do Mérito do exército
austríaco, com a seguinte motivação: “Excelente e sacrificado serviço diante do
inimigo. Desempenhou seu dever com zelo e dedicação extraordinários. Raro
exemplo de sacerdote, que se consuma de modo ideal na sua vocação e merece ser
condecorado pela suprema Autoridade.” Capturado
pelo exército italiano, ficou dois anos na prisão militar de Trento. Como
verdadeiro santo, nunca nos falou de nada disso na casa salesiana de S. José dos
Campos.
O triste legado da
1ª Guerra Mundial, com o sacrifício de toda uma geração de jovens, foram os
horrores da Segunda Guerra de 1939 a
1945. Culpado disso, creio, foi o tratado de Versalhes, que não merece o nome
de tratado de paz, mas sim imposição de vencedores.
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