quinta-feira, 9 de maio de 2013

LUTERO - o filme e a História


                Saboreando ainda nossos estudos de História Eclesiástica no querido Instituto Salesiano Pio XI, de São Paulo,  escrevi sobre Lutero quatro artigos, publicados em nossa GAZETA DE ALAGOAS, em minha coluna semanal das sextas-feiras, em 21/01, 28/01, 04/02 e 11/02. Esses artigos foram provocados pelo filme, de evidente conotação publicitária, patrocinado que foi – ao menos em sua exibição aqui no Brasil – pela organização DIACONIA, a versão luterana da católica ADVENIAT. Para o nosso SEMEADOR, quero resumir num único artigo o que interessaria dizer sobre o fundador do Protestantismo.

            Vou comentar as observações que o  Prof. J. L. Delgado fez sobre o filme num seu artigo, publicado no Jornal do Commercio do Recife em 30 de janeiro. Ele chama de três lições, que seriam as seguintes: 1ª - a marcha da insensatez, como ele classifica  a situação moral grave da Igreja no tempo de Lutero; 2ª - a escalada das radicalizações entre Alemanha e Roma; e por fim, a 3ª, o mistério da Igreja, que ele diz que, sendo divina, sobrevive a todas as calamidades de sua atribulada história.e vence todos os percalços, erros e escândalos.

            A propósito da lª observação, lembro que por dois séculos, ouviu-se na Igreja o brado: “Reforma na Cabeça e nos membros!” Os três papas do período anterior a Lutero foram  Alexandre VI (1492-1503), que deixou péssima fama quanto à sua moralidade, ao menos antes do papado, como  militar com 4 filhos,  apesar de ter iniciado as missões no Novo Mundo e, como espanhol, ter realizado, num solene exercício do Supremo Pontificado, a famosa divisão das terras a descobrir na  América entre Espanha e Portugal, muito favorável à Espanha, depois reformada  pelo Tratado de Tordesilhas (1494); Júlio II (1503-1513), grande guerreiro, conquistador de cidades e pouco pontífice, ainda considerado um bom papa; e Leão X (1513-1521) um Médici, filho de Lourenço, o Magnífico, de Florença, que até tinha boas intenções, mas pensava equivocadamente que seu apoio às artes e a construção daquela que ele denominava “a Catedral da Cristandade”, a Igreja de São Pedro no Vaticano, resolveriam os graves problemas morais e disciplinares da Igreja. Em 1510, quando Lutero esteve em Roma ainda se falava muito – e mal – de Alexandre VI, e o monge agostiniano se escandalizou com as indulgências, o culto das relíquias e o proceder da Cúria romana.

            Na 2ª lição de  J. L. Delgado, eu acrescentaria a divulgação do famoso documento intitulado “Gravamina nationis germanicae” (Os agravos, desgostos, da nação germânica), que eram as queixas da Alemanha contra a Igreja de Roma. Juntou-se a esse fato a rivalidade entre as duas mais importantes Ordens religiosas da época: agostinianos e dominicanos. Seus mestres, entre os quais Lutero, brilhavam nas cátedras de teologia. “Havia frades demais” - diz com sarcasmo um historiador da época. Daí resultou o famoso comentário em Roma, diante das primeiras notícias da crise na Alemanha, “isso não passa de uma querela de frades...” Foi assim que veio a idéia, algo irônica, de reunir o Concílio que daria a autêntica reforma da Igreja, em Trento, “in faucibus Germaniae” - nas fauces (ou goela) da Alemanha... O Concílio, hoje ignorado por muitos, proclamou com firmeza os dogmas católicos e, com intrepidez, realizou a suspirada reforma moral, esperada há séculos...

            Belíssimo o comentário final que o ilustre professor e articulista tece, na que ele chama 3ª lição, da inexpugnabilidade da Igreja de Cristo, não obstante a reconhecida fraqueza histórica de alguns de seus líderes. Continua de pé a palavra de Jesus: “As portas de Hades (a potência da Morte e da destruição) não prevalecerão sobre minha Igreja” (V. Mt 16, 18) e: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20) Todos os dias. Os bons e os maus.

            A complexa personalidade de Lutero (1483- 1546) foi definida por um historiador sério e isento: extraordinária força de imaginação – veemente paixão em seus empreendimentos – ternura de afetos – linguagem virulenta – sensibilidade poética e musical – arroubos místicos e ódio implacável ao papado e a Roma – sugestionabilidade e teimosia – exaltações e depressões – pavor doentio do diabo e da condenação eterna, de que se julgava merecedor, como confessou à esposa, a ex-freira  Catarina de Bora.        

            Esse foi o Lutero – monge, teólogo, pretenso reformador da Igreja e agitador social.

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