O 10 de maio de 1945 foi proclamado o Dia da Paz. Três dias
antes, os aliados ocupavam Berlim e o governo nazista se rendia, sem condições.
Era o fim da guerra na Europa. A Alemanha dividida entre as chamadas quatro
grandes potências vencedoras da guerra: Estados Unidos, União Soviética,
Inglaterra e França (?). Também a França, que fora invadida e fizera um pacto
com o vencedor da hora, a Alemanha nazista...
Festa
em todo o mundo naquele 10 de maio. Eu estava em Cajazeiras, na Paraíba, como
clérigo assistente e professor no Colégio Salesiano Padre Rolim. Desfile
escolar, concentração na praça principal da cidade, discurso pelo Padre Bartolomeu de Barros
Almeida SDB, vice-diretor do Colégio. Era a Paz...
Mas era a paz, que enviava todo o poderio bélico, sobretudo
americano, para o Oriente, contra o Japão. Mais raides aéreos sobre Tóquio, a
linda capital japonesa, já quase toda destruída. Era a paz da bomba atômica,
que no dia 6 de agosto daquele ano de 1945, destruiu em minutos a cidade de
Hiroshima e três dias depois, fez o mesmo em Nagasaki, e ameaçava fazê-lo nos
dias seguintes em mais oito cidades japonesas. Dia 15 de agosto daquele ano, o
Imperador japonês aceitava a rendição incondicional, assinada diante do General
Mac Arthur, americano, a bordo de um porta-aviões, por um general japonês, que
caminhava com dificuldade, apoiando-se numa bengala.
Era
a paz, ditada pelo vencedor bélico, que assumiu o governo do Império do Sol
Nascente. Essa era a paz da guerra fria, do muro de Berlim, dividida em duas,
como o restante da Alemanha. Era a paz das ogivas nucleares soviéticas,
apontadas para as cidades americanas, com o nome estampado em seu bojo. A paz
da guerra da Coréia, ainda hoje dividida em duas, a do Norte, comunista, e a do
Sul, aliada dos Estados Unidos. A paz da guerra da Indochina, que se libertou
do domínio francês e se dividiu em Laos, Cambodja e Vietnam, logo também
dividido em dois, para ser o grande atoleiro dos Estados Unidos, metido numa
guerra sem fim, sem sentido e sem objetivo, como tantas outras e outras, que se
seguiram. Como essas duas últimas do Golfo Pérsico e a do pobre Afeganistão,
que serviu apenas para mostrar ao mundo toda sua miséria e atraso. Essa é a paz
do miundo, a paz das guerras.
E Jesus
proclama: “Eu vos dou a paz, a minha paz. Não como o mundo a dá.” Como é
essa paz de Jesus? É a paz do íntimo da consciência, a paz do homem consigo
mesmo, a paz da ordem e da tranqüilidade interior. É a paz com os irmãos, com todos os irmãos, a paz do amor,
do perdão, da não-violência, a paz para os pobres, os ignorantes, os sem-força,
os desprotegidos, os marginalizados de toda espécie pelo mundo. É a paz com
Deus, na retidão da consciência, a paz dos que só procuram o bem, só estão
preocupados em servir a Deus no seu irmão com fome, sem-terra, sem-teto, no
menino-de-rua sem lar, sem escola, sem amor, os prediletos de Deus.
Essa
é a paz verdadeira, que Jesus nos dá e o mundo não nos pode tirar. É essa paz que o cristão
ambiciona. É para essa paz que devemos lutar e sofrer cada dia.
Recife,
8/09/2004
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