segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Brasil-República e a Igreja

              O alagoano Deodoro da Fonseca, que ostentava o título, mais simbólico que real, de Marechal,  era o mais indicado e o menos indicado para se por à frente do movimento republicano, que tomara forças no Brasil, sobretudo após a Guerra do Paraguai em 1870, com a criação do Partido Republicano. Naquela manhã de 15 de novembro de 1889, ele foi arrancado da cama, com febre, porque seus colegas de farda, entre os quais gozava de prestígio e simpatia, apesar de sua timidez, queriam porque queriam, que ele se pusesse à frente do movimento republicano e, sem mais, proclamasse o novo sistema político do Brasil. Contando com a amizade do velho e sábio Imperador, que tanto sofreu com a traição do amigo, Deodoro,  apesar de sua liderança entre os colegas de farda, não deveria pôr-se à frente do movimento que ia derrubar do poder o velho monarca.
                No conhecido soneto sobre a República, referindo-se a Deodoro, o Imperador poeta se queixa: “Mas a dor cruel que o ânimo deplora / que fere o coração e quase o mata / É ver na mão cuspir à extrema hora /  a mesma boca, aduladora e ingrata,  / que tantos beijos nela deu outrora.” Referia-se à cerimônia do “beija-mão”, que acontecia em solenidades especiais no Palácio Imperial.
                Nosso segundo Imperador, dois dias após a proclamação da República, seguiu para Portugal, indo para o Porto, onde a Imperatriz morreu a 28 de dezembro daquele ano. Dom Pedro II seguiu sozinho para a capital francesa, onde faleceu em 5 de dezembro de 1891, com 66 anos. Ele tinha  estranha doença que lhe dava aspecto senil, superior à sua verdadeira idade. Possuindo vasta cultura, falava francês, inglês e alemão e, por incrível que pareça, julgava o sistema republicano mais adatado que o regime monárquico, naquele final do século 19.
                A primeira Constituinte, no regime imperial, a de 1824, contava com 22 padres e determinara : “A religião católica, apostólica, romana continua a ser a religião do Império. Todas as outras serão permitidas com seu culto doméstico em casas, para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.” Já a 1ª Constituição republicana aboliu por completo esse privilégio, como também a chamada “lei do padroado”, em força da qual os ministros sagrados, bispos e padres, eram mantidos pelo Governo Imperial, sendo também feita pelo Imperador a indicação para os vários cargos. Os bispos, indicados pelo Imperador, eram eleitos pelo Papa.
                O regime imperial brasileiro entre 1873 e 1875 produzira dois mártires da independência da Igreja: Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de Olinda, capuchinho, e Dom Antonio de Macedo Costa, bispo do Grão-Pará, que não se submeteram à intromissão imperial no governo de suas dioceses e excomungaram maçons dirigentes das Irmandades, poderosas na época e donas, no Recife, das melhores igrejas da diocese.

                As relações entre a Igreja e o estado brasileiro ficaram definitivamente esclarecidas e fixadas no recente Acordo entre o Brasil e a Santa Sé, de 7 de outubro de 2009, obra do Núncio Apostólico Dom Lorenzo Baldisseri.

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