sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O VOTO CONSCIENTE

Aproximam-se as eleições políticas de nossa pátria. Cada brasileiro é convidado a exercer o direito do voto. Voto é direito e dever. Dever de todos. Todos, de qualquer idade e condição. Conheço gente de 87 anos de idade, que irá exercer dignamente seu direito-dever de votar.
                Nas cartilhas que fizemos em nossas duas dioceses (Parnaíba e Maceió) sempre repetimos: Voto é dever pessoal e responsável. Voto não se vende. Voto não se compra. Voto não angaria proteção. Voto não paga favores.
                As pesquisas de opinião, agora quase diárias e largamente difundidas pelos poderosos meios de comunicação, antecipam o resultado das eleições e influenciam enormemente na escolha de muitos eleitores. São aqueles que usam expressão totalmente equivocada: “Eu não vou perder meu voto.” E assim votam naquele que as pesquisas apontam como vencedor e nunca naquele que eles consideram melhor, mas que as pesquisas indicam que não vencerá. É uma grosseira confusão com a corrida de cavalos, na qual, se vota no que parece  que será o vencedor, para depois participar do prêmio.
O que poucos conhecem é o sistema vigente no Brasil das eleições para a Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmara dos Vereadores. É a chamada eleição proporcional. É um sistema de eleição,  no qual o número total de votos, obtido por todos os partidos e coligações é dividido pelo número de cadeiras da Câmara Federal, da Assembleia ou da Câmara dos vereadores, obtendo-se assim o chamado quociente eleitoral. Cada partido (ou coligação) terá direito a tantas vagas, quantas vezes repetir o quociente eleitoral. Os candidatos mais votados desse partido ocuparão as vagas, conquistadas por seu partido, na ordem da votação por eles obtida. Assim pode acontecer, como ocorreu no Recife nas últimas eleições municipais, que por força desse sistema,, um candidato não se elegeu, embora tivesse mais votos  que outros quatro, que se elegeram,  porque o partido deles dispunha de mais cadeiras. Portanto, em última análise, o eleitor vota primariamente no partido e, só secundariamente, no candidato de sua escolha. Foi esse processo que permitiu aberrações, como o caso do doutor Enéas, há anos atrás, e mais recentemente o fenômeno Tiririca, com tantos eleitos não por seus próprios votos, mas pelos votos dados ao palhaço-deputado.
O Pró-Vida de Anápolis aconselha aos eleitores o que ele chama de método PPP,  isto é, considerar o Partido do candidato, seu Passado político e suas Promessas efetivas...

Concluo, repetindo que o voto é um dever e cabe à consciência de cada um exercê-lo livre e conscientemente.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Jubileu episcopal

A simpática e progressista cidade de Itabuna, no sul da Bahia, a rainha do cacau, viveu dias de intensa vibração religiosa e movimentação social, ao homenagear seu bispo e pastor, Dom Ceslau Stanula CSsR, pelo transcurso de seu jubileu de ouro sacerdotal e jubileu de prata episcopal, no dia 22 de agosto último.
Foi uma festa da colegialidade episcopal. É bonito ver o Povo de Deus em torno de seus pastores, vendo na fé  aqueles que representam junto ao povo fiel o Pastor Supremo, Cristo Jesus. Participaram das festividades quatro Arcebispos: Dom Murilo Ramos Krieger SCJ, de  Salvador, primaz do Brasil, Dom José Palmeira Lessa, de Aracaju, Dom Luiz Gonzaga Pepeu, capuchinho, de Vitória da Conquista, e o emérito de Maceió, Dom Edvaldo Amaral SDB. Bispos presentes: Dom Eduardo Zielski, de Campo Maior, no Piauí;  Dom Ricardo Guerrino Brusati, de Caetité; Dom José Ruy Gonçalves Lopes, capuchinho, de Jequié; Dom José Geraldo da Cruz  AA,  de Juazeiro da Bahia;  Dom Mauro Montagnoli  CSS, do  vizinho de Itabuna, Ilhéus; Dom Carlos Alberto dos  Santos, de Teixeira de Freitas-Caravelas, no extremo sul da Bahia.
Na véspera do dia do Jubileu, houve solenidade lítero-musical, promovida pela  Academia de Letras de Itabuna, da qual o bispo Dom Ceslau é membro efetivo. Discursos de várias entidades representativas da sociedade e da diocese itabunense. Números de cantos de música clássica e popular e exibições artísticas, sobretudo de jovens e de crianças.
A Santa Missa de Ação de Graças pelo duplo jubileu, soleníssima, teve lugar no dia 22 de agosto, na Catedral diocesana,  que apresentava rica decoração especial,   contando com a participação litúrgica dos dez prelados presentes e grande numero de religiosas consagradas e do povo de Deus, que acorreu em massa, lotando a igreja-mãe da diocese.
Muito querido de seu povo, estimado por seus padres, respeitado e prestigiado pelas autoridades civis do município, Dom Ceslau Stanula soube captar a simpatia e o respeito de seus diocesanos. Foi uma festa da gratidão e reconhecimento pelo grande trabalho pastoral que, com inteligência e dedicação, ele vem desenvolvendo nestes anos de seu serviço pastoral na abençoada terra da Itabuna do cacau.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"Os Judeus do Papa"

                É de Gordon Thomas  o livro que dá título a este artigo. Trata-se de jornalista  investigativo inglês, com mais de 50 livros publicados, num total de mais de 45 milhões de cópias. É de impressionante competência, nos assuntos tratados no livro, a lista de pesquisadores com que ele abre essa obra jornalística. O alentado volume, de 379 páginas, foi publicado no Brasil pela Editora Geração, e tem por objetivo esclarecer de uma vez por todas – e o consegue com profundidade e clareza – o papel  secreto, prudente, diplomático e eficiente do Papa Pio XII,  na questão dos judeus, particularmente os de Roma, perseguidos  pela insana barbárie nazi-fascista. A leitura do livro – e, diria melhor, seu estudo aprofundado – é imprescindível para todos aqueles, que se interessam por conhecer a verdade dos fatos, desse período sombrio da história contemporânea, que cobriu nossa civilização de “suor, lágrimas e sangue”, na conhecida expressão de Wiston Churcill.
 O autor, na introdução do livro, transcreve a declaração do gênio da física,  Albert Eisntein, judeu, à revista TIME no Natal de 1940: “Somente a Igreja Católica se colocou no caminho da campanha de supressão da verdade, promovida por Hitler. Ela, sozinha, teve a coragem e a persistência de defender a verdade intelectual e a  liberdade moral.” Gordon Thomas cita ainda uma carta escrita em 1943 por Chaim Weizmann, depois primeiro presidente do  Estado de Israel, em que ele agradece o apoio dado pela Santa Sé, ao oferecer ajuda poderosa para atenuar os sofrimentos de seus irmãos na fé. Mons. Magee  em conversa com o autor chamou de “calúnias ignóbeis” as acusações contra Pio XII de omissão na defesa dos judeus.
                Fica claro que depois da condenação do nazismo pela “Mit brennender Sorge” de Pio XI, seu secretário de Estado e sucessor, Eugênio Pacelli, Pio XII, só devia agir como ele fez, na defesa e proteção dos judeus. Outra encíclica, repetindo a condenação do  nazismo e sobretudo sua política racial, pareceu ao novo Pio desnecessária, inoportuna e ineficaz. Ele optou pela ação, protegendo aos milhares, particularmente judeus do guetto de Roma. Determinou escondê-los nos conventos, sobretudo  femininos, mais inacessíveis, mais resguardados, e ajudou-os na  manutenção e fuga com segurança para fora da Europa.
                Em 30 de novembro de 1938, após a famosa Kristallnacht (Noite dos cristais), em que a fúria nazista queimara sinagogas, casas e lojas de judeus em toda a Alemanha, começou o plano de Pacelli para salvar os judeus na Alemanha. Enviou uma mensagem urgente e codificada aos bispos da Igreja alemã, conseguindo que milhares de judeus saíssem da Alemanha nazista. Os números reais permaneceram em segredo até 2001 – informa Gordon – quando se soube  que  pela ação dos bispos, convocados por Pacelli duzentos mil judeus conseguiram sair da Alemanha nas semanas seguintes à Kristallnacht.

                  A História ainda fará justiça à figura corajosa e intrépida do Papa Eugênio Pacelli.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

COMO E POR QUE SOU SALESIANO




Depoimento


Não me lembro do tempo em que não quis ser padre. Desde a primeira infância, pensava em ser padre, professor e jornalista.Como salesiano, exerci o magistério nos três colégios, onde fui diretor.  e ainda como bispo, dei aulas no Seminário de Maceió. E nem depois de bispo emérito, deixei de dar um cursinho lá e cá. Em Noronha e no Recife.                  Jornalista, fui a vida toda. Fiz alguns cursos breves de jornalismo, rádio e televisão, inclusive na famosa Escola Gásper Líbero de São Paulo. Tive algumas oportunidades raras nesse campo. Participei de duas tardes do Festival de Cinema de Veneza, levado pelo amigo Marco Bongiovanni., Como turista, já bispo, visitei Hollywood, a Meca do cinema mundial. Mas, no campo do jornalismo, o importante mesmo foi dirigir por nove anos a revista “Cooperador Salesiano” e, depois, como emérito, criei o boletim da ADMA e, ainda, o boletim “Santuário”, que após  nossa igreja ter recebido o título de Basílica, passou a chamar-se “O Semeador”. Hoje escrevo um artigo quinzenal para a GAZETA DE ALAGOAS, para O SEMEADOR de Maceió, e eventualmente, algum artigo meu é publicado na Coluna das religiões do Jornal do Commercio, aqui no Recife.
Mas o sentido de minha vida está todo no sacerdócio salesiano. Ao concluir o curso primário, como se chamava então, com 10 anos, procurei, como era natural, ingressar no Seminário de Olinda. As despesas eram exorbitantes. Além de um longo enxoval para entrada, havia a aquisição de duas batinas, que eram de uso diário e uma taxa mensal.  Papai estava desempregado, porque a firma onde ele trabalhava falira. Era a Lafaiette, fabricante de cigarros, que tinha uma loja de vendas de seus produtos na esquina da 1º de março com a rua do Imperador, onde Papai era gerente e, pela importância daquele local, era bem conhecido no Recife.   Acontece que como aluno do Colégio Moderno em Afogados, tinha um professor, secretário e responsável maior do colégio. Era o professor era Estácio Antunes, ex-salesiano e muito amigo de um seu antigo colega, o Padre Aécio Polla, diretor do Colégio Salesiano do Recife. Um belo dia, Prof. Estácio perguntou-me: “Você quer ser padre salesiano?” Pedi três dias para pensar e respondi que sim. E foi assim que no dia histórico da morte do Papa Pio XI, o Papa de Dom Bosco, 10 de fevereiro de 1939, em companhia de meu amigo, Luiz Marinho Falcão, ingressei no aspirantado de Jaboatâo.
No ano seguinte, o aspirantado transferiu-se para o Colégio do Recife. Voltei para o noviciado em Jaboatão em 1943 e aí, no dia 31 de janeiro de 1944, fiz meus primeiros votos religiosos. Assim, se chegar lá, no próximo 31 de janeiro, estaria completando 70 anos de profissão, já o mais antigo de votos de nossa Inspetoria.
Em Natal, cursando o primeiro ano de filosofia, tive uma forma benigna de tuberculose pulmonar: infiltração nos hilos dos dois pulmões, daí se irradiando para os ápices. Vim ao Recife tratar-me com o Dr. Miguel Archanjo, que daí em diante, tornou-se grande amigo do colégio. 1945 foi meu ano de tirocínio em Cajazeiras, onde era vice-assistente e secretário do colégio. Em 1946, voltei para o Recife e, finalmente, de 1947 a 1949 fui para a casa de repouso de São José dos Campos, onde tive a grande graça de conviver com o santo Padre Rodolfo. Nestes três anos, estudava filosofia e prestava exame de cada tratado concluído.
Fiz votos perpétuos em janeiro de 1950 e durante o ano, o tirocínio. Meus felizes anos de teologia foram de 1951 a 1954, no Instituto Teológico Pio XI da Lapa. Fui ordenado em 8 de dezembro de 1954, data centenária do Dogma da Imaculada,  com 19 colegas de todo o Brasil na Catedral de S.Paulo pelo cardeal Dom Carlos Mota.
1955 a 1964, secretário inspetorial. Reitor do Santuário do Sagrado Coração, hoje Basílica, em 1965. Depois, diretor dos colégios de Aracaju, Recife e Natal de 1966 a 1975. De maio de 1971 a janeiro de 1972, tive a grande felicidade de participar, em Roma, do maior Capítulo     Geral da história de nossa Congregação - sete meses- que teve a difícil tarefa de fazer novas Constitiuições.
Em 20 de abril de 1975, em Natal, fui sagrado bispo, para ser auxiliar de Aracaju. Cinco anos, de 1980 a 1985, fui bispo de Parnaíba e de 1986 a 2002 fui arcebispo de Maceió. Os três estados mais pobres do Nordeste: Sergipe, Piauí e Alagoas. Feito emérito em julho de 2002, ainda tive experiências pastorais bem interessantes e diversificadas: quatro meses, no Japão, com os brasileiros para lá emigrados; e depois, como Delegado do :Arcebispo Dom José Cardoso, seis anos em Fernando de Noronha. Por fim, o Padre Inspetor de então, Padre João Carlos, confiou-me a reitoria do nosso Santuário, para o qual consegui, com a ajuda de amigos em Roma, receber o título de Basílica.
Agora, ao partir para minha eternidade, deixo em Maceió a mais preciosa herança de minha vida salesiana. É a Fundação João Paulo II, gestora de cinco obras em favor da juventude pobre e abandonada, como queria nosso Pai.  A primeira é a CASA DOM BOSCO, fundada no primeiro aniversário da Visita Pastoral de João Paulo II a Maceió, destinada antes aos meninos-de-rua, os “cheira-cola”, hoje, para os adolescentes, vítimas do crack e outras drogas. É um belo prédio, com salão multi-uso, salas de aula, laboratório de informática, consultório dentário, quadra coberta, uma pequena piscina de plástico e uma criação de animais. Temos ainda a Casa Dona Assunta, a Casa Maria Amélia, a Casa “Totus Tuus”, uma pequena pousada para universitários pobres do interior e, por último, neste ano, recebemos como dádiva do céu, a Escola Carlo Novello, régio presente de uma família italiana.
Ao completar neste 31 de  janeiro de 2014 70 anos de consagração religiosa, rendo graças ao bom Deus por  ter-me chamado desde a adolescência à família de nosso Santo Pai, Dom Bosco, ao qual tudo devo como religioso consagrado, sacerdote e bispo da Igreja de Jesus.
Te Deum laudamus!



terça-feira, 5 de agosto de 2014

Homossexual e católico

Tema realmente espinhoso e difícil de ser abordado, sem ferir suscetibilidades pessoais e normas da moral, é esse do homossexualismo. A revista MARIA AUSILIATRICE, de  Turim, norte da Itália, divulgou em sua edição de julho/agosto deste ano, interessante entrevista com o jovem Philippe Ariño  que, sobre o tema publicou um livro que causou grande impacto, com o título: “Homossexualismo contra a corrente.”
Ariño nasceu na Espanha há 34 anos e vive em Paris, onde ensina espanhol e comunicação. Depois de ter vivido uma série de experiências  e relacionamentos, há três anos deixou o companheiro com quem vivia e,  como diz no subtítulo de seu livro, passou a “viver conforme  a Igreja e ser feliz”.
Disse ele à revista salesiana de Turim: “O mundo não se divide entre homosexuais de um lado e heterosexuais do outro, mas sim entre homens e mulheres. A homossexualidade é o sinal do não encontro entre o homem e a mulher e a ruptura dos homens com Deus. É uma ferida que eu escolhi denunciar, para ajudar as pessoas homossexuais a sair do sofrimento da prática da homossexualidade e as pessoas heterossexuais a compreender que a prática da homossexualidade não é outra coisa senão a incapacidade de amar-se na diferença dos sexos.”
                Sobre o impacto que a divulgação de sua nova atitude diante do sexo está causando, ele explicou: “Eu deixei aquele comportamento não por falta de algo melhor,  uma desilusão amorosa ou espécie de orgulho de praticar atos que a moral cristã condena. Deixei porque aqueles atos não me bastavam e hoje, ao invés, a continência me satisfaz totalmente. Não é  o número das escolhas amorosas que determinam o grau de nossa  felicidade, mas sim a escolha integral por uma única pessoa, seja ela o que chamam de sexo oposto, ou seja  Jesus Cristo.”
                E com vigor, ele explica: ”Propor o caminho da continência a uma pessoa homossexual, sem convencê-lo da presença de Jesus na sua vida, que Ele existe, é nosso amor e nossa segurança, equivale a dar-lhe uma corda para enforcar-se.”
                Sobre seu papel na Igreja hoje, esclarece: “Minha condição atual me permite desempenhar um papel, que nenhum padre ou religioso poderia realizar. Tenho visto nos debates e nas palestras que realizo, que meu testemunho pessoal de homossexual, hoje continente,  causa grande impacto nos jovens, nos menos jovens e nos religiosos. Eu, pobre  leigo sem valor, constato que recebi de Deus um carisma especial de libertação para alguns pregadores na Igreja que não teriam exemplos concretos de homossexuais continentes.”
                A revista salesiana de Turim conclui fazendo notar: “Teu testemunho parece não excluir a santidade...”  Ao que, Ariño respondeu: “Sem dúvida! É que Deus se serve de qualquer madeira para acender o fogo. Mirar à santidade significa  apontar para a perfeição e ser santificados por Alguém infinitamente maior que nossas ações e nossos méritos. Estou convicto que se abrirmos nosso coração para acolher o ‘escândalo’ da cruz de Cristo e da virgindade fecunda de Maria, seremos todos – homossexuais ou não – SANTOS!”


quarta-feira, 23 de julho de 2014

"Estou nas mãos de Deus"

“Que as anotações pessoais sejam queimadas. Peço que vele sobre isso o padre Stanislaw, a quem agradeço pela colaboração e ajuda tão prolongada através dos anos” – escrevia S. João Paulo II em seu testamento de 6 de março de 1979. “Não queimei as anotações de João Paulo II, porque elas são a chave para compreender sua espiritualidade, aquilo que é mais íntimo no homem: sua relação com Deus, com os outros e consigo mesmo”- explicou o hoje Cardeal Estanislau Dziwisz, arcebispo de Cracóvia, no prólogo de um alentado volume de 638 páginas, publicado no Brasil este ano pela Editora Planeta.                                              No prefácio desse livro, que tem por título “Estou nas mãos de Deus” , informa o Padre Jan Machniak que as anotações espirituais revelam ao longo de dezenas de anos (1962 a 2003) a profundidade de trato com Deus de Karol Woytila – bispo auxiliar, arcebispo de Cracóvia, cardeal e papa. E acrescenta: “Nos últimos anos, as anotações dos exercícios espirituais tornaram-se cada vez mais breves. O Santo Padre anotava o tema do retiro e o programa do dia. Há menos observações pessoais.”     
No Vaticano, houve quem criticasse a atitude de Dziwisw de não cumprir a determinação de seu amigo e protetor, que tinha nele absoluta confiança, pelas décadas que esteve ao seu lado, como secretário particular,  desde bispo auxiliar em Cracóvia até Papa em Roma. Acontece que em qualquer processo de beatificação – e eu participei como testemunha no processo do Padre Rodolfo de S. José dos Campos – todos os discursos, cartas e quaisquer escritos do candidato às honras dos altares são cuidadosamente examinados pelos juízes da Congregação romana para as Causas dos Santos. Entre eles, está o famoso Defensor da Fé, que jocosamente é chamado de “advogado do diabo”, porque lhe incumbe a árdua tarefa de descobrir se há algum erro ou deslize nos escritos e no comportamento do proposto a ser declarado santo pela Igreja. A destruição de qualquer documento, como esse de João Paulo II, seria altamente suspeita. Por isso, Estanislau Dziwisz, secretário de João Paulo II, entregou suas anotações pessoais à Congregação para as Causas dos Santos.                                                                                                                   
O  tesouro espiritual que fica nessas páginas é de valor inestimável. Começa em 1962, quando ele era bispo auxiliar e vai até o retiro espiritual de 2003, perto de sua morte. Ele “cruzou o limiar da esperança”   às 21:37 do sábado da semana de Páscoa, 2 de abril de 2005.          
 Pelo reduzido espaço de que disponho, vou limitar-me a poucas citações. No retiro de 1962, em preparação ao Concílio: “Estou nas mãos de Deus – o conteúdo daquele Totus Tuus (Todo teu) apareceu com em um novo lugar. Quando qualquer assunto meu se transforma, assim, em propriedade de Maria, é possível enfrentá-lo, mesmo que isso implique um risco.” No retiro de 1964, arcebispo de Cracóvia: “Redirecionamento  do retiro à santíssima humanidade de Cristo e portanto, à sua Mãe – calem-se os doutores, um é o Mestre: Cristo. Retrocedam as criaturas, fala-me só Tu. Sobre a kénosis  (esvaziamento) ou seja sobre a destruição do amor próprio como condição para essa escuta durante o retiro.” No retiro de 1983, pregado pelo Card. Ratzinger, ele rezava: “Ao celebrar mais uma santa Quaresma, concedei-nos avançar na inteligência do mistério de Cristo e vivê-lo em sua plenitude” e refletia: “Indo para o deserto, Jesus penetra na história de seu povo, em seu caminhar e em suas tentações no deserto. Assim, os sacerdotes de hoje terão de marcar o caminho através do deserto da modernidade.” No retiro de 1986, pregado pelo Reitor Mor dos Salesianos, Pe. Viganò: “A santidade (vida no Espírito, vida de fé, esperança, caridade) concentra-se definitivamente no amor: amor de Deus e do homem, inseparáveis. Amor pastoral. O caminho do amor é o homem. Deus, para revelar seu amor, fez-se homem, pobre. Cristo, fonte desse amor.” O último retiro que ele anotou foi o de 2003.

 O livro citado reproduz a última página da agenda escrita por Karol Wojtyla, com essas palavras: “Jonas, ou seja, o medo de anunciar o amor de Deus.”     

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A paz no futebol

          Com esse título, o Sr. Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, promoveu a celebração de uma santa Missa, na igreja da Santa Cruz, (a igreja de minha infância) no último dia 2 de junho, em memória ao 30º dia de falecimento do jovem, vítima de louco atentado de um leviano torcedor, que no final de uma partida de futebol no Recife atingiu mortalmente com uma latrina o jovem, cuja família participou consternada da celebração litúrgica. Estavam presentes, além do Sr. Arcebispo, quatro bispos, grande número de fiéis, que lotaram o templo sagrado e os presidentes dos três maiores times de futebol da capital pernambucana. O Sr. Arcebispo explicou, no início da celebração eucarística, o sentido daquele ato de piedade cristã, acentuando a prece que se fazia naquele momento para que reine a paz, e nunca a violência, nas competições esportivas, sobretudo quando o país estava às vésperas da realização em nossa pátria da Copa do Mundo.
                Também a Pastoral do Esporte da Arquidiocese do Rio de Janeiro realizara, no dia 19 de maio, no próprio estádio do Maracanã, encontro interreligioso, iniciando a campanha “Copa da Paz”. Participaram, juntamente com os católicos, outros representantes do cristianismo evangélico, do judaísmo, islamismo, budismo, umbanda e candomblé. Estavam presentes,  além das várias pastorais da Arquidiocese do Rio , também representantes de movimentos sociais, como o “Viva Rio”, a Rede “Desarma Brasil”, e o presidente da Federação Carioca das Torcidas Organizadas.
                A Campanha “Copa da Paz” – como informa o boletim arquidiocesano – faz parte do projeto “100 Dias de Paz”, no qual a Pastoral do Esporte busca grande mobilização da sociedade carioca com o  “Decore sua rua”, a “Tenda da Paz” e uma conferência sobre um mundo sem armas, como construção de um legado social deixado pela Copa do Mundo. Todo esse movimento visa a cumprir o artigo 29 da Lei Geral da Copa, promulgada pela FIFA, “ com divulgação de eventos de campanhas  com temas sociais”.
                Todos concordam que o futebol, como os outros esportes, quando trabalhados de maneira correta são excelentes ferramentas de inclusão social e implantação de valores positivos na sociedade.
As preocupações da Igreja do Brasil, nesta Copa, além da violência nos estádios, a que nos referimos, são:
-  os gastos astronômicos que foram feitos na construção desses elefantes brancos, como as suntuosas arenas de Manaus, Cuiabá e da própria capital federal, com seu “Mané Garrincha”;
-  a exploração sexual por parte de turistas das ingênuas mocinhas de nossas capitais;
- o tráfico humano para prostituição no exterior;
- a violência dos vândalos, infiltrados nas justas e democráticas manifestações populares por  um país melhor e mais feliz.

E agora, a pergunta: “O que se pode esperar do pós-Copa?” Responde o Prof. José Márcio Barros, da PUC-Minas: “O futebol vem se transformando no mundo todo, e o Brasil não fica fora desse processo, em um grande negócio, um grande espetáculo midiático. Cada vez mais admiração, cada vez menos sociabilidade comunitária. Cada vez menos jogo, cada vez mais aposta.” E acrescenta, em resposta à mesma pergunta, o Prof. Maurício Murad, da mesma Universidade: “O que desejaríamos esperar do pós-Copa seria um legado para a sociedade brasileira, sobretudo mais pobre, em termos de segurança, transporte, saúde e educação. Infelizmente o que estamos vendo é que os governos preferem viver e divulgar no discurso oficial o Brasil do “faz-de-conta”, em vez de melhorar a realidade do país, ainda muito desigual e injusta.”

Brasil, futebol clube

“Um jogo de futebol em uma Copa do Mundo é o fato social total. Expresso na metonímia de que 11 pessoas são o Brasil” – diz o Prof. Edson Gastaldo, da Universidade Rural  do Rio de Janeiro. Sob o título “A Pátria de chuteiras”, o último número da revista da PUC-Minas  traz  longo e profundo estudo sobre o fenômeno cultural que representa o futebol para nossa pátria, começando pelo subtítulo: “Presente no cotidiano do país, o futebol permeia a cultura e celebra a nacionalidade brasileira.” Essa Universidade orgulha-se de ter  tido entre seus alunos o meia Rivelino e o atacante Romário.
                Numa tarde fria de outono de  1895, Charles Miller (1874-1953) reuniu uns amigos e convidou-os a disputarem uma partida de foot-ball, enquanto lhes explicava as regras  do novo esporte  e enchia de ar a bola para a primeira partida desse jogo no Brasil, que até então só conhecia o críquete – foi o que informou o introdutor no Brasil do esporte bretão, em declaração à revista O Cruzeiro de 1952. Por muito tempo ainda, as Ciências Sociais viam o futebol de modo desconfiado. Julgavam-no como o ópio do povo, que servia apenas para ludibriar as classes trabalhadoras e afastá-las das discussões políticas de seus interesses. O maestro Heitor Villa Lobos dizia que o futebol não pegaria no Brasil, sendo mais um modismo, como na época eram o ioiô e o bambolê. É de Graciliano Ramos o texto Futebol é fogo de palha, publicado em 1920.
                Foi a partir do Estado Novo, com o Presidente Getúlio Vargas, que o futebol começou a se popularizar.  A Copa da França em 1938, com a participação de Leônidas, o “diamante negro” e a transmissão radiofônica, empolgou todo o país. A obtenção do 2º lugar, vencido pela Itália na partida final, trouxe enorme popularização para o futebol.  A criançada – eu estava nela – fazia  os famosos álbuns de figurinhas. Comentaristas radiofônicos e cronistas nos jornais, como os irmãos Mário Filho e Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira usavam linguagem coloquial, mais próxima do torcedor. Poucos sabem que o nome oficial do Maracanã, palco do final desta Copa, é Estádio Jornalista Mário Filho. Maracanã  é  bairro carioca, onde se situa o famoso estádio.  O governo militar aproveitou bem da conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970, com as campanhas ufanistas do slogan Ninguém segura este país  e o hino da Copa Noventa milhões em ação – Pra frente Brasil do meu coração – Salve a Seleção.  Também a campanha Diretas Já!  colocou nos palanques de seus comícios o craque corintiano Sócrates.
                Para esta Copa, o Ministério do Turismo calcula que o Brasil irá receber cerca de 600 mil turistas estrangeiros, além de 1,1 milhão de brasileiros que se deslocarão pelo país para as cidades-sedes do Mundial. Para o arcebispo Anuar Battisti, da pastoral do turismo da CNBB, “Um evento como esta Copa pode ser muito favorável para o nosso país. O grande ganho, diz ele, será tornar nosso país mais conhecido e admirado. Desejamos que os turistas do esporte possam ser também turistas de outras maneiras, tão agradáveis como o futebol.”

                O que me impressiona – e esta é uma opinião inteiramente pessoal – é que se o Brasil não conquistar o primeiro lugar, que obteve já cinco vezes, para muitos será uma desgraça nacional, quase como se uma bomba atômica tivesse caído em território nacional. Mas - pergunto eu antipaticamente - as outras seleções não têm também, como a nossa, o direito de conquistar a Copa do Mundo?...  

LUTERO, O MONGE, O TEÓLOGO, O REFORMADOR - Palestra

LUTERO
O MONGE, O TEÓLOGO, O REFORMADOR



1.      INTRODUÇÃO – O artigo de J.L.Delgado no Jornal do Commercio:
               Três lições da Reforma Protestante:
a)      A situação moral grave da Igreja de Roma – Por dois séculos, ouviu-se o brado: “Reforma na cabeça e nos membros!” –
Os 3 Papas anteriores a Lutero:
      Alexandre VI (1492-1503) – antes de ser papa, péssimos costumes morais – como papa, a divisão do Novo Mundo;
      Júlio II (1503-1513) – mais guerreiro, que pontífice, bom papa;
      Leão X  (1513-1521) – um Medici, grande cultor da Arte.
b)      A escalada das radicalizações entre os príncipes alemães e Roma:
“Gravamina nationis germanicae” e a rivalidade entre agostinianos e dominicanos.
c)      As palavras de Jesus: “As portas do inferno não prevalecerão sobre ela” (Mt 16, 18) .

2.      A complexa personalidade de Lutero (1483-1546) –
             Definição de um historiador sério e isento.
      
3.      Lutero, monge e teólogo –
            Sua vida: Nascimento - Batismo – Pai - Educação – Primeiros estudos Vocação – “Novo São Paulo” – Epilepsia - Sacerdote (1507) – Mestre em filosofia (1508)  - Visita a Roma (4 semanas em 1510)  - Escandalizou-se com as indulgências  - Não aceito nem prestigiado – Doutor em teologia (1512).
           



4.      Voltando de Roma, começa a fatal evolução de seu espírito.
Causas:
a)      muito trabalho intelectual e pouca oração;
b)      desprezo pelas normas disciplinares da vida religiosa e pela ascética;
c)      desconhecimento da teologia escolástica e desprezo por S.Tomás de Aquino
d)      orgulho e teimosia, com a convicção de que era chamado por Deus a realizar “grandes coisas” na Igreja.

5.      A pregação das indulgências de Leão X.
Dominicanos e não agostinianos – O dominicano João Etzel: abusos e desatinos pastorais e teológicos – O Papa lhe retira essa missão – Era tarde demais...

6.      Na véspera da festa de Todos os Santos de 1517, afixava na porta da Universidade de Witemberg suas 95 teses – (Marx, historiador alemão: análise de seu conteúdo).

7.      1518: Começa o processo em Roma – Não se retratou, exigia um Concílio a seu modo.
15 de junho de 1520: A bula de sua condenação “Exsurge Domine”, a ser executada pelos príncipes alemães. Ao contrário, deram-lhe um salvo-conduto.
10 de dezembro de 1520 – fogueira dos estudantes de Wittemberg  dos livros de Direito Canônico – Lutero queimou a bula de sua condenação.

8.      Neste ano, no retiro de Wartburg, escreve os livros que marcam sua definitiva separação da Igreja:
“O Papado em Roma”
“Discurso sobre o Novo Testamento”
“À nobreza cristã da nação germânica”
Ele dizia que ia abater “as muralhas do romanismo”: distinção entre clérigo e leigo – interpretação oficial da Bíblia – direito exclusivo do Papa de convocar um concílio ecumênico – o direito  canônico.
Era contra: o celibato clerical; o latim na liturgia; o cálice só para o ministro; os sete sacramentos (só Batismo, Ceia, Penitência).
Ensinava: “crede fortiter et pecca fortiter”.

9.      Escreveu ainda:
“Juizo sobre os votos monásticos “ – despovoou os conventos.
“Da abolição da missa privada”
“A Missa em alemão”


10.  Declínio:
- A revolta dos camponeses – sua dúplice posição
- Casa-se com a ex-freira Catarina de Bora – Seis filhos, ignorados pela história
- Desilusões: Calvino na Suiça, Henrique VIII na Inglaterra e o fato dos príncipes alemães se apossarem dos bens eclesiásticos, em nome das novas ideias.
 - No retiro de Wartburg, ele dizia que eram insinuações do demônio suas posições contra a Igreja de Roma.
       11. O Concílio de Trento – “in faucibus Germaniae”
            Em três períodos: 13 de dezembro de 1545 a 4 de dezembro de 1563
            Três Papas: Paulo III, Júlio III e Pio IV
Aclarou os dogmas da Igreja, reprimiu com energia os muitos abusos morais, desde a reforma da Cúria romana, os famosos “benefícios” de bispos e abades, a obrigação da residência. Realizou a verdadeira Reforma da Igreja.
Lutero escreveu: “O Papado de Roma, fundado pelo diabo.”

12.   Apreciação final:
1)      Lutero nunca aceitou sua terrível vocação de revolucionário.  Ver Miegge.
Alguns acham que a causa de sua revolta foi “sua orgulhosa e sofrida intolerância a qualquer contradição de suas ideias por parte de seus adversários. É o que ele próprio afirma no seu livro “De captivitate babilônica” sobre o Papado e as indulgências.
2)      O conhecimento adequado do ambiente histórico-teológico em que se movimentou o monge Lutero
a)      Diminui o aspecto de novidade de suas ideias teológicas
b)      Acentua os elementos patológicos de seu caráter, às vezes contraditório
c)      Distingue nele o que eram as exigências teológicas da Alemanha e o que era uma reta aspiração da renovação espiritual das formas de piedade da época;
d)      Por fim, faz notar os elementos estranhos que interferiram em sua obra de reformador.
3)      Unilateralmente, a História pode considerar Lutero:
        Ou um místico, avesso aos dogmas de teologia e expressão viva da alma germânica da época;
       Ou um simples destruidor da Igreja e da consciência dogmática!








FIM

Desiludido pelos rumos indesejados que tomou sua reforma, faleceu a 18 de fevereiro de 1546 e foi sepultado –ironia da História – na festa da Cátedra de São Pedro em Roma, 22 de fevereiro .




quarta-feira, 9 de julho de 2014

A GRANDE GUERRA

                Cresci ouvindo falar da “Grande Guerra”, que neste 28 de julho completa cem anos de seu início. Só mais tarde, com a guerra mundial de 1939-1945, mais devastadora do que ela, tomou o nome de “Primeira Guerra Mundial”.  Foram 15 milhões de mortos, em grande parte  soldados.  A gripe espanhola, que lhe seguiu, infectou um terço da população mundial e matou 50 milhões de pessoas, portanto, mais que três vezes a guerra em si.
                Eu teria podido participar da Segunda Guerra, se o Brasil tivesse enviado a 5ª Expedição em 1945, quando completei os 18 anos para o alistamento. Mas no início daquele ano, a guerra já estava definida em favor dos aliados com a derrota total do nazismo.
                Convivi, porém, com três participantes da Primeira Guerra Mundial, que tiveram grande importância na minha vida de seminarista e marcaram profundamente minha formação sacerdotal-salesiana.
                O primeiro deles foi o Padre Guido Barra, que fora oficial do exército italiano e, que entre outras coisas, nos falava da imensa dificuldade de comunicação com seus subalternos, usando as primitivas e rudimentares máscaras contra gazes tóxicos, empregadas na guerra de fronteira, que marcou o estilo do conflito. Com o advento do fascismo, ao qual ele se opunha, os Superiores julgaram por bem enviá-lo para o Brasil, onde foi diretor do Colégio Salesiano de Belém, Provincial do Nordeste e depois  do Mato Grosso e, finalmente, membro do Conselho Geral da Congregação Salesiana. Foi ele quem me aceitou no noviciado e recebeu meus primeiros votos religiosos.
                O segundo ex-combatente que conheci foi o Pe. Angelo Visentim, meu mestre de noviciado. Quando lhe perguntávamos se ele havia matado alguém na guerra, ele respondia que não podia saber, porque sua missão eram o manejo dos canhões, cujo alvo estava bem distante.
                O terceiro foi o santo Pe. Rodolfo Komorek, com quem convivi três abençoados anos, os últimos de sua vida, em S. José dos Campos, S.P. Em 1914, sacerdote da diocese polonesa de Bieslsko, ele solicitou sua aceitação como capelão militar no exército austríaco. Por dois anos, serviu no Hospital de Cracóvia e, por seu trabalho, foi agraciado com a distinção da Cruz Vermelha. Pediu depois para ir para o front e em 5 de maio de 1916, recebeu a Cruz Espiritual do Mérito do exército austríaco, com a seguinte motivação: “Excelente e sacrificado serviço diante do inimigo. Desempenhou seu dever com zelo e dedicação extraordinários. Raro exemplo de sacerdote, que se consuma de modo ideal na sua vocação e merece ser condecorado pela suprema Autoridade.”  Capturado pelo exército italiano, ficou dois anos na prisão militar de Trento. Como verdadeiro santo, nunca nos falou de nada disso na casa salesiana de S. José dos Campos.

                O triste legado da 1ª Guerra Mundial, com o sacrifício de toda uma geração de jovens, foram os horrores da Segunda Guerra de 1939  a 1945. Culpado disso, creio, foi o tratado de Versalhes, que não merece o nome de tratado de paz, mas sim imposição de vencedores.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O Papa pela paz

“Nunca mais a guerra! Nunca mais!” – foi o brado suplicante do Papa Paulo VI em 4 de outubro de 1965 à  Assembléia das Nações Unidas, acrescentando: “Nunca mais uns contra os outros, nunca mais”. Papa Francisco retomou este brado de paz, do qual se fez intérprete, lembrando que a “a humanidade é uma única grande família sem distinções”. No Angelus  do domingo, 1º de setembro, ele exclamou: “O uso da violência nunca conduz à paz. Guerra chama mais guerra, violência chama mais violência.” Foi nesse Angelus, que o Papa reza da janela do Palácio Vaticano,  todos os domingos, ao meio-dia, com os fiéis na Praça de S. Pedro, que ele convocou toda a cristandade e os homens de boa vontade do mundo inteiro para no sábado seguinte, que era 7 de setembro, fazer um dia de jejum e de oração pela paz na Síria.
                Aos cristãos ortodoxos da Igreja sírio-malancar, cuja delegação ele recebeu no dia 5 daquele mês, o Papa Francisco convidou a juntos superar a cultura do confronto pela cultura do encontro, unidos católicos e cristãos ortodoxos na oração pela Síria.
                No sábado, 7 de setembro, unido a toda a Igreja naquele mesmo horário, o bispo de Roma concluiu o dia de  jejum e oração pela paz, com uma celebração das 20 às 24 horas na Praça de São Pedro, com  participação de cerca de 100 mil pessoas. Dois jovens sírios, Amman e Ismael, com a bandeira de seu país, em nome de grande número de muçulmanos, que participaram da celebração, afirmaram: “Estamos todos aqui para agradecer ao Papa, que demonstrou  compaixão  pelo nosso povo e porque hoje estamos todos unidos na oração pela paz”. Foram a oração e o jejum as armas indicadas pelo Papa Francisco para afastar a violência e a guerra.
                Espantam os números do conflito que já provocou mais de cento e dez mil mortos, numerosíssimos feridos e mais de seis milhões de deslocados e refugiados. As fotos das crianças famintas, divulgadas pela imprensa, são de cortar o coração. “Um ulterior agravamento da situação militar na Síria só teria tristes consequências para aquela população já tão sofrida”, disse com amargura o Cardeal Robert Sarah, presidente do Pontifício Conselho  Cor Unum, enviado do Papa para visitar pessoalmente os campos de refugiados  no Líbano e na Jordânia.
No esforço para evitar o pior, que seria uma intervenção militar dos Estados Unidos ou das potências européias, o Papa Francisco escreveu uma carta, datada de 4 de setembro,  ao presidente russo Vladimir Putin, que presidiu em São Petersburgo a reunião do G20, as vinte maiores potências econômicas do mundo. “Os chefes dos estados do G20 tomem consciência de que é inútil a pretensão de uma solução militar na Síria” – advertiu o Pontífice. E acrescentou: “Infelizmente, os demasiados conflitos armados que hoje afligem o mundo apresentam-nos, todos os dias, uma dramática imagem de miséria, fome, doenças e morte. Com efeito, sem paz não há qualquer tipo de desenvolvimento econômico. A violência nunca leva à paz, condição necessária para esse desenvolvimento.”

São essas as expressões da solicitude pastoral do Santo Padre, Pastor da Igreja de Cristo Jesus, pela paz no mundo e, agora, com empenho especial pelo Oriente Médio e em particular pela Síria que vive no momento uma história de dor e de morte.

terça-feira, 1 de julho de 2014

A devoção ao Coração de Jesus

A devoção ao Coração de Jesus é do domínio da história e da teologia.  É  fato histórico e verdade teológica.  Antes de S. Margarida Maria Alacoque (22/07/1647 – 16/10/1690) e S. João Eudes (1602-1668), houve quem tivesse e propagasse a devoção ao Coração de Jesus : S.Bernardo, S. Gertrudes, S. Mectildes. O próprio S. Agostinho (430) tem belíssima reflexão sobre a transfixação do Coração de Jesus pela lança do centurião romano.
Porém o culto que se tornou público do Coração de Jesus e que foi admitido oficialmente pela Igreja tem sua origem nas revelações de S. Margarida Maria Alacoque no fim do século 17.
Motivo deste culto, diz o P. Garrigou Lagrange, é a excelência da caridade de Cristo e a excelência de seu coração físico, orgânico, o qual é digno de adoração porque é coração da Pessoa Divina que é o Verbo feito carne e porque é símbolo de seu amor. Não se pode separar o coração da pessoa de Jesus.  O objeto da nossa devoção é a mesma Pessoa divina que se manifesta no amor e no seu símbolo que é o coração.
Objeto próprio desta devoção – diz oP.Bainvel - é o coração de carne, emblema do infinito amor de Jesus. Portanto nem o coração só, nem só o amor de Jesus. Mas o coração, como símbolo e expressão do infinito amor de Jesus por nós. Mostrando a S.Margarida Maria o seu peito aberto, disse Jesus: “Eis o coração que tanto tem amado os homens e que  não se poupou até à morte em  demonstrar-lhe todo s/ imenso amor.”
                Aí estão os dois elementos que constituem a devoção  ao Coração de Jesus  como é praticada hoje na Igreja:
              - o elemento sensível – o coração de Jesus;
                - o elemento espiritual – o infinito amor de Jesus por nós,  do qual é símbolo e expressão o coração.
                Os dois elemento, o coração amante e o amor do coração, são essenciais nesta devoção como a alma e o corpo são essenciais no homem e constituem um só homem. 
                A devoção ao Coração de Jesus é a devoção do amor de Jesus por nós; amor com que nos amou como homem e o amor com que nos ama como Deus.
Por isso, essa devoção se compraz em estudar e meditar esse amor liberal e generoso em todos os seus benefícios, detendo-se especialmente em duas de suas maiores manifestações, depois de sua Encarnação, depois de se fazer homem como nós. São elas: a Paixão e a Eucaristia. Comenta o Pe. Croiset: “Objeto particular da devoção ao Coração de Jesus é o amor imenso do Filho de Deus  por nós, que o fez entregar-se à morte pela nossa salvação e dar-se como alimento para nossa alma no SS. Sacramento do Altar.
Consequência para nossa vida cristã: é ser todo de Jesus  para sentir o que Ele sente, para amar o que Ele ama, apropriar-se de seus sentimentos de amor, oferecer a Deus uma vida de reparação e de amor.
Mas a grande lição do Coração de Jesus nós encontramos nos dois textos bíblicos da liturgia da festa do Sagrado Coração de Jesus:
              1 Jo 4,16: “Deus é Amor, quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele.”
Mt 11,20 : “Aprendei de mim,  que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso.”


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Os novos Herodes

              Conforme os melhores exegetas como Ricciotti (Vita di Gesù), as crianças assassinadas pelo ímpio  Herodes para eliminar o Menino Jesus, seu possível concorrente, não passaram de vinte e cinco, dada a população de Belém daquele tempo, e tendo em vista que os visados eram apenas as crianças de dois anos para baixo e só do sexo masculino. Número muito maior  do que este é o das crianças,  cada dia abortadas pelos novos Herodes, que são os médicos abortistas, que  satisfazem os mais fúteis motivos, como o incômodo de ter mais um filho. 
                Quero lembrar aqui a lei moral , que contempla o caso de um ato com duplo efeito: um bom, que é o visado, e um mau, que é tolerado, tendo em viConforme os melhores exegetas como Ricciotti (Vita di Gesù), as crianças assassinadas pelo ímpio  Herodes para eliminar o Menino Jesus, seu possível concorrente, não passaram de vinte e cinco, dada a população de Belém daquele tempo, e tendo em vista que os visados eram apenas as crianças de dois anos para baixo e só do sexo masculino. Número muito maior  do que este é o das crianças,  cada dia abortadas pelos novos Herodes, que são os médicos abortistas, que  satisfazem os mais fúteis motivos, como o incômodo de ter mais um filho. 
                Quero lembrar aqui a lei moral , que contempla o caso de um ato com duplo efeito: um bom, que é o visado, e um mau, que é tolerado, tendo em vista o efeito bom e necessário. É o caso, por exemplo, da mulher grávida, portadora de um tumor no útero. É lícito fazer uma intervenção cirúrgica, tendo em vista extirpar o tumor, mesmo que resulte dessa operação de forma indireta a morte do feto, não havendo outra possibilidade e tendo urgência de fazer a   operação.
                O boletim de janeiro deste ano da Associação Pró-vida, de Anápolis (Goiás), traz um caso  interessante. Uma senhora, de nome Sabrina, de 32 anos de idade, residente em Brasília, na quinta semana de gravidez, sentindo dores cada vez mais intensas no baixo ventre, submeteu-se a uma ecografia. O exame revelou gravidez dupla: um feto estava no útero normalmente e um outro achava-se na trompa, fora do lugar natural, que os médicos chamam gravidez ectópica. A médica que a atendeu em Brasília sugeriu que ela tomasse um remédio para abortar os dois fetos, evitando assim qualquer risco de uma ruptura tubária.
                “Cristã e temente a Deus, - informa  o boletim da Pró-Vida - Sabrina procurou a  orientação de Anápolis, recusando provocar o aborto dos dois fetos. Foi orientada por outro médico, que lhe asseverou que era possível que o embrião, que estava na trompa, parasse de crescer e morresse naturalmente. E foi o que aconteceu. Sabrina ficou em permanente observação e a dor depois de crescer um pouco, foi diminuindo até desaparecer completamente pela  16ª semana de gravidez. É que o feto fixado na trompa havia morrido  e fora naturalmente expulso do organismo da mãe.  No dia 23 de agosto de 2013, Sabrina deu à luz uma linda menina, a quem deu o nome de Maria Cecília. Ela se chama Maria, explicou a mãe feliz, porque eu a consagrei a Nossa Senhora desde o início”. Conclui o citado boletim: “O que aconteceu com a gravidez de Sabrina é muito comum. Em mais de 65% dos casos termina em aborto natural ou o embrião morre e é absorvido pelo organismo da mulher. Nenhuma intervenção cirúrgica é necessária.”
                Mas os novos Herodes estão aí de plantão para matar crianças inocentes...
 sta o efeito bom e necessário. É o caso, por exemplo, da mulher grávida, portadora de um tumor no útero. É lícito fazer uma intervenção cirúrgica, tendo em vista extirpar o tumor, mesmo que resulte dessa operação de forma indireta a morte do feto, não havendo outra possibilidade e tendo urgência de fazer a   operação.
                O boletim de janeiro deste ano da Associação Pró-vida, de Anápolis (Goiás), traz um caso  interessante. Uma senhora, de nome Sabrina, de 32 anos de idade, residente em Brasília, na quinta semana de gravidez, sentindo dores cada vez mais intensas no baixo ventre, submeteu-se a uma ecografia. O exame revelou gravidez dupla: um feto estava no útero normalmente e um outro achava-se na trompa, fora do lugar natural, que os médicos chamam gravidez ectópica. A médica que a atendeu em Brasília sugeriu que ela tomasse um remédio para abortar os dois fetos, evitando assim qualquer risco de uma ruptura tubária.
                “Cristã e temente a Deus, - informa  o boletim da Pró-Vida - Sabrina procurou a  orientação de Anápolis, recusando provocar o aborto dos dois fetos. Foi orientada por outro médico, que lhe asseverou que era possível que o embrião, que estava na trompa, parasse de crescer e morresse naturalmente. E foi o que aconteceu. Sabrina ficou em permanente observação e a dor depois de crescer um pouco, foi diminuindo até desaparecer completamente pela  16ª semana de gravidez. É que o feto fixado na trompa havia morrido  e fora naturalmente expulso do organismo da mãe.  No dia 23 de agosto de 2013, Sabrina deu à luz uma linda menina, a quem deu o nome de Maria Cecília. Ela se chama Maria, explicou a mãe feliz, porque eu a consagrei a Nossa Senhora desde o início”. Conclui o citado boletim: “O que aconteceu com a gravidez de Sabrina é muito comum. Em mais de 65% dos casos termina em aborto natural ou o embrião morre e é absorvido pelo organismo da mulher. Nenhuma intervenção cirúrgica é necessária.”
                Mas os novos Herodes estão aí de plantão para matar crianças inocentes...


Carnaval e Quaresma

A liturgia da Igreja fixa a maior festa litúrgica do ano, a Páscoa da Ressurreição do Senhor, no primeiro domingo após o plenilúnio (lua cheia) da primavera no hemisfério norte. Assim, cada  ano, a Páscoa pode ocorrer desde o domingo, 22 de março, até o domingo, 25 de abril. É mais de um mês de oscilação. Este ano, a quarta-feira de Cinzas será no dia 5 de março e a Páscoa, 20 de abril, porque há lua cheia no dia 15 de abril.
 A história da Igreja conheceu longa controvérsia sobre a fixação da festa da Páscoa, com diversidade de datas entre o Oriente e a praxe de Roma, seguida em todo o Ocidente. Após várias decisões conciliares e decretos papais, finalmente, só no início do século VIII, é que se chegou à unanimidade da data da Páscoa, como conhecemos hoje.
E agora, a pergunta: e que tem a ver isso com o Carnaval? Nada, absolutamente nada, devemos responder. Mas é que o Carnaval nasceu de uma festa, que os cristãos celebravam na chamada  Terça-feira  Gorda, com abundante refeição com carne, despedindo-se da carne – em latim “Carnis, vale!” – “Adeus, carne!”  Daí, o nome Carnaval. Isso porque, no dia seguinte, começavam  quarenta dias do rigoroso jejum, nos quais era absolutamente proibido o uso de carne nas refeições. Acontece que nem existe mais este jejum de 40 dias, nem os cristãos se despedem de comer carne; nem os que festejam o Carnaval – hoje com elementos das bacanais romanas – têm a ver com Quaresma e os que celebram a liturgia quaresmal, começada com a quarta-feira de Cinzas, pouco têm a ver com o Carnaval. Antes, muitos e sobretudo os jovens de vida cristã comprometida aproveitam esses três dias de feriado para retiro espiritual, com uma renovação e uma séria preparação para o santo tempo quaresmal, que leva à Semana Santa da Páscoa.
E então, por que a data do  Carnaval ficou  vinculada  à celebração litúrgica da Páscoa, com o início da Quaresma na quarta-feira de Cinzas? Não há explicação razoável possível. Trata-se de mera inércia histórica, dessas que ficam (“como sempre foi”...) porque ninguém tem coragem de mudar. Ainda bem, quando o Carnaval se limitava aos três dias, chamados de folia, e terminava rigorosamente na manhã da assim apelidada  “quarta-feira ingrata”, como diziam os foliões. Hoje, o que acontece em muitas capitais desse nosso Brasil carnavalesco é que o Carnaval dura quase um mês, invade a Quaresma, desde o desfile no Rio das escolas de samba vitoriosas até outras manifestações de folia durante o tempo, que os cristãos consideram sagrado.
Já tive oportunidade de propor em reunião da CNBB nacional um acordo com as entidades carnavalescas para  eliminação dessa esdrúxula e absurda vinculação do Carnaval com a Quaresma, hoje absolutamente sem sentido. Alguns anos atrás, o diretor cultural da Liga Independente das Escolas de Samba do Recife, Sr. Hiram Araújo, propôs,  em artigo do Jornal do  Commercio,  uma data fixa para os dias da folia. Ele dizia que “a idéia vem ganhando adeptos das agremiações carnavalescas, mas esbarra numa força superior: a Igreja Católica, que determinou, diz ele, o calendário da festa sempre 40 dias antes da Páscoa.” Como bispo, posso perguntar: “E o que a Igreja tem a ver com a data do Carnaval? Nada!”  De minha parte, acho que ela deveria ser em data fixa, como propõe  o Sr. Hiran, contanto que, respeitando o sentimento religioso de boa parte do povo brasileiro, não coincidisse com a Quaresma. O primeiro domingo de fevereiro, por exemplo, seria uma boa data. Para os organizadores da festa haveria a vantagem de saber sempre  com antecedência a data do Carnaval, sem precisar recorrer cada ano (vejam o absurdo!) ao calendário litúrgico da Igreja.

Espero que algum dia o bom senso prevaleça e se faça a separação entre a festa dos foliões e o santo tempo litúrgico da Quaresma, que nos leva à Páscoa do Senhor.

Os números deste pontificado

OS NÚMEROS DESTE PONTIFICADO
                Neste primeiro ano do pontificado de Papa Francisco são os seguintes os números  de seu trabalho apostólico: Foram 39 audiências gerais, das quartas-feira,com uma média de 50 mil peregrinos cada vez; 60 orações do Angelus para a praça de São Pedro; uma viagem internacional para o Brasil e três viagens dentro do território italiano. Foram154 discursos,  252 homilias, nove visitas pastorais a paróquias romanas. Acrescentem-se a estes números uma Encíclica, Lumen Fidei, uma exortação apostólica Evangelii Gaudium, 4 motus próprios, 40 mensagens pontifícias, 37 cartas apostólicas, um número incontável de ligações telefônicas em resposta às correspondências que ele recebe diariamente.
                Mais de 6,5 milhões de pessoas participaram de eventos com Papa Francisco em 2013 no Vaticano.


A festa dos quatro Papas

Realmente inédita, em toda a história de Igreja, a festa desse domingo, 27 de abril,  que reuniu na praça de S. Pedro, no Vaticano, o papa santo, emérito, Bento XVI e o Papa Francisco,  que presidiu a solenidade canônico-litúrgica da canonização de dois papas, João XXIII e João Paulo II.
João XXIII foi eleito Papa em 28 de outubro de 1958. Pela sua idade, 77 anos, dizia-se que era um papa de transição. E foi realmente de transição, não no sentido que se dava na época,  de “passageiro”, “transitório”. Nos cinco anos de seu pontificado, ele realizou a grande  transição da Igreja para os tempos modernos com incrível coragem, que surpreendeu o mundo, de realizar um Concílio ecumênico, o Vaticano II, que devia retomar o processo de atualização da Igreja, tentado já no Concílio Vaticano I, bruscamente  suspenso em 1870. O Vaticano II abriu a Igreja para o mundo moderno e iniciou diálogo com as outras religiões e modificou profundamente a liturgia, a oração da Igreja, adatando-a às várias culturas.
Angelo Roncalli - era seu nome de batismo - nasceu no vilarejo Sotto Il Monte, numa família de agricultores pobres. Com bolsa de estudos da diocese de Bérgamo, sua província natal, estudou em Roma no Pontifício Colégio Romano. Ordenado sacerdote, foi secretário do bispo, capelão militar na 1ª Guerra Mundial, núncio apostólico (representante do Papa) na Bulgária, Turquia, Grécia  e em Paris, sendo eleito depois patriarca de Veneza. Presidiu apenas a primeira sessão, de três meses, do Concílio Vaticano II, falecendo aos 3 de junho de 1963. Chamado o “Papa turco”, por seu trabalho diplomático na Oriente Médio, foi porém sobretudo o “Papa Bom”. A bondade foi  sua grande  característica, nas relações da Igreja com todos, protestantes, ortodoxos, judeus, anglicanos e shintoistas.
                Karol Wojtila, o primeiro polonês eleito Papa, é de todos nós conhecido, tendo visitado três vezes o nosso país.  Eleito papa em agosto de 1978, após o brevíssimo pontificado de 33 dias de João Paulo I, em sua homenagem  tomou o nome, até então inédito, de João Paulo.  Doutor em filosofia e teologia, era fluente em mais de dez idiomas. Seu pontificado, o segundo maior da história, caracterizou-se por uma incrível atividade apostólica, tendo visitado praticamente o mundo inteiro. Beatificou um número incalculável de candidatos às honras dos altares, canonizando mais santos do que todos os papas juntos, nesses últimos cinco séculos. No famoso encontro de Assis, criticado por muitos, ele estabeleceu diálogo verdadeiro e leal com as outras religiões.
                Na praça de São Pedro, em seus funerais, em 2 de abril de 2005, o povo pedia com muitos cartazes: SANTO SUBITO!  Santo logo!