Conferência no Centenário de nascimento do
Padre Rodolfo
1.Introdução
A 25 de agosto de
1947, escrevia o Pe. Rodolfo Komórek uma carta ao seu conterrâneo Pe. José
Piasek, que se encontrava em Araxá ( Estado de Minas), dando notícias dos
salesianos da Residência de repouso de São José dos Campos. A certa altura,
informa: “Estão aqui também Pe. Romeu Wenclawek, de Bagé, e um Sr. Clérigo da
província nortista, Edvaldo. Este último, chegado do Recife, parece o mais
fraco; os outros, creio, estão melhorando vagarosamente.”
Excelência
Reverendíssima, Salesianos, meus irmãos,
Amigos e
admiradores do Pe. Rodolfo,
É este clérigo, “o
mais fraco” que, passados 43 anos, aqui está para vos dar, com júbilo de alma e
alegria de coração, o seu testemunho pessoal sobre a extraordinária figura do
Pe. Rodolfo Komórek, salesiano polonês, falecido nesta cidade a 11 de dezembro
de 1949 e cujo centenário de nascimento hoje estamos aqui a celebrar.
2.Testemunho
pessoal
Nos “Lusíadas”, Camões apresenta a
discutida figura do velho do Restelo que, no cais do porto, apostrofa as
caravelas que partiam para a epopéia do Descobrimento. E dele observa o grande
bardo lusitano que possuía
“ o saber só de experiências feito...”
( Lusíadas, canto IV, estr.94)
Sem desprezar o
muito que já se escreveu sobre o Padre Rodolfo, eu quereria nesta minha
despretensiosa palestra, cingir-me quase exclusivamente à minha experiência
pessoal. Afora alguma declaração sua em cartas, pretendo apenas transmitir o
que vi, o que observei e ouvi do Pe. Komórek nos três últimos anos de sua vida.
São fatos que falam
por si.
3.Meu conhecimento do
Pe. Rodolfo.
Conheci
o Padre Rodolfo em um momento privilegiado da sua e da minha existência. Eram
os anos 1947-1949. Eu era um jovem seminarista salesiano, com 20 a 22 anos, estudante de
filosofia, atingido, embora não gravemente, pela doença que naqueles anos
trazia tanta gente a São José dos Campos.
Para
mim, foi um grande enriquecimento na minha formação sacerdotal e religiosa o
testemunho de um santo, vivo e perto de mim.
Para
o Padre Rodolfo, aqueles foram os anos finais de sua caminhada para a
santidade. Brilharam então de forma esplendorosa seu total despojamento de si
próprio e sua heróica doação aos outros, sobretudo os doentes, os pobres e os
necessitados de toda espécie.
Posso desde já sintetizar a figura
admirável do Pe. Rodolfo nesta expressão: “Foi um homem todo de Deus, todo
doado aos irmãos.” Nada buscou para si, nada reteve para si. Extraordinária sua
mortificação da gula e no desprezo pelo mínimo conforto, que o repouso por
motivo da doença estaria a exigir. Sua postura na igreja, seus comentários aos
acontecimentos do dia a dia, sua palavra de conforto ou de orientação, em
qualquer circunstância, revelavam sempre um grande espírito de fé e uma
existência voltada unicamente para o sobrenatural e para a vida eterna. Pe. Rodolfo nos deixava a impressão de viver
sempre na presença de Deus e julgar todas as coisas à luz do divino.
Pe.
Rodolfo recusou-se a ensinar-me polonês. Queria, ao contrário, ensinar-me
astronomia e aprender a distinguir, no céu estrelado, as constelações do
firmamento. Talvez, um símbolo. Ele não me queria ensinar a língua dos homens,
mas revelar-me as coisas do céu.
À
sua morte, ante seus restos mortais, na capelinha de nossa Residência, eu pedi
ingenuamente a Deus que me passasse o seu conhecimento das línguas, que não era
pequeno, que eu tanto ambicionava e que para ele eram já inúteis àquela altura.
Hoje,
eu me recomendo à sua poderosa intercessão junto de Deus para que me conceda,
em minha vida de bispo, sua fé viva , sua decisão inabalável no caminho da
perfeição religiosa e um pouco ao menos de seu devotamento e dedicação para os
outros.
4.Ângulo de visão
Para
entendermos a figura do Pe. Rodolfo, sem riscos de perigosas distorções e
lamentáveis equívocos, é mister colocarmo-nos num ângulo de visão correto, a
fim de que daí possamos devidamente
aquilatar sua dimensão de herói da santidade.
Há
o perigo de vermos somente aspectos episódicos, convertidos em humorismo e até
resvalando para o ridículo.
Como
já fiz em meu depoimento no processo diocesano de beatificação, aqui, em S. José dos Campos, em
1964, tentarei resumir a vida do Pe. Rodolfo na concretização do princípio
estabelecido na “Imitação de Cristo”:
“Quanto
mais é oprimida e domada a natureza, tanto maior graça é infundida, e tanto
mais cada dia é renovado o homem interior, conforme a imagem de Deus.”
Toda
a vida do Pe. Rodolfo Komórek se resume nesta frase: o completo esmagamento da
natureza, em seus movimentos depravados, pela força da graça.
O
que nos descreve a Imitação no capítulo 54 do livro III realizou-se na vida do
Pe. Komorek de maneira admirável e, sem dúvida, atingiu o máximo nos seus
últimos anos.
5.Primeiro encontro
Conheci-o no dia 15 de abril de 1947, quando cheguei
a São José dos Campos. Depois da sua habitual saudação “Laudetur Jesus
Christus”, levou-me a visitar um nosso irmão velhinho, que se achava paralítico
no leito e veio a falecer dois meses depois, Pe. Manoel Collazzo. Foi o seu
primeiro ato de caridade que presenciei. Era edificante vê-lo procurar auxiliar
este nosso irmão com grande bondade, fazer com ele novenas a São José para o
seu restabelecimento, já considerado impossível. Já antes de recolher-se ao
leito pela paralisia, este nosso pobre irmão por doença mental conservava um
absoluto mutismo. O Pe. Rodolfo procurava entretê-lo nas recreações,
fazendo-lhe companhia e falando-lhe, sem receber dele quase nenhuma resposta.
6.
Pobreza e penitência
A primeira
impressão que dava o Pe. Komorek a quem o encontrava era a de um austero
penitente. Sua magreza naqueles anos era extrema, seu porte modestíssimo e
castigado, suas palavras raras e bem medidas. Ao mínimo esforço, percebia-se
seu arfar cansado. Sua vida, fisicamente considerada, era um perene desafio á
medicina. À sua chegada, o médico dissera que, com muito repouso e cuidados,
poderia prolongar um pouco seus anos. Ele, ao invés, passou nove anos numa
atividade extraordinária, sem se deixar vencer pela doença.
Seu
espírito de pobreza, extraordinário. Todo o seu vestuário era quase sempre
aproveitado de outros que haviam morrido. Aliás, a única exceção de que me
recordo era uma batina que, conforme me foi dito, os benfeitores salesianos da
cidade, vendo-o andar tão mal trajado, mandaram fazer para ele. No primeiro ano
em que o conheci, usava-a raramente e só nos dois últimos anos é que ficou
sendo de uso diário.
Alegrava-se
com tudo o que era pobre e inferior e sabia habilmente ver vantagens e
qualidades nas coisas mais humildes e mesquinhas. Lembro-me que certa vez
esforçava-se por demonstrar a alguém mal satisfeito como a comida fria é tão
boa como a quente.
Não
só amava a pobreza, mas sentia-se feliz no meio dos pobres. Como tratava com
verdadeira afabilidade os velhinhos do Asilo Santo Antônio! Nos anos
anteriores, havia sido capelão nesse Asilo e era queridíssimo por todos.
Sua
pobreza se revelava também na economia que fazia das menores coisas, como, por
exemplo, do mínimo pedaço de papel. Escrevendo, usava tantas abreviaturas, que
nós dizíamos que ele fazia economia até de letras... Na verdade, aprendi com
ele a escrever com abreviaturas, que uso até hoje em notas particulares.
Detestava,
podemos assim dizer, o automóvel, considerado naquela época veículo de luxo,
que só os ricos possuíam, porque eram todos importados. Ficou célebre o caso de
quando foi receber na estação ferroviária o Pe. Gastão, novo diretor. Sendo
muito longe da Av. João Guilhermino, onde ficava nossa casa, sempre se usava o
carro de aluguel, como se dizia na época. Feitos os cumprimentos, fez o padre
entrar no carro e despediu-se, voltando a pé para casa. Nos casos mais graves,
pela distância ou pela urgência, usava a charrete, bastante comum naquela época
em São José.
Seu
quarto era o mais pobre e despojado da casa. Sempre úmido, tinha às vezes mau
odor pela vizinhança com as instalações sanitárias nem sempre bem higienizadas.
Dizia-se
que ele antes dormia no chão. A carta mortuária fala de que dormia sobre tábuas
que pusera no leito. Eu tive ocasião de ver essas tábuas.
De
par com sua pobreza, era seu grande espírito de mortificação. Nunca comia
carne. Nunca vi tomar bebida alguma, exceto água, e água comum, nem água
mineral. Dizia-se que nem mesmo um dos Superiores Gerais em visita, o Pe.
Reineri, conseguira que ele tomasse vinho, bebida diária para os europeus.
Em
todas as refeições era mortificadíssimo, preferindo sempre o que os outros
rejeitavam.
Só
saía de casa por motivo de caridade e nunca ia a festas que não fossem na
igreja.
Detestava
os títulos, cumprimentos e distinções. Só após sua morte, soubemos de
condecorações recebidas na 1ª guerra mundial.
Nunca
saiu de sua boca uma palavra inútil. Nunca um gracejo que não fosse necessário
à caridade. Sempre que visse um irmão triste e acabrunhado, se aproximava e
começava a falar-lhe. Fora desse caso, ouvia. Nas conversas, não permitia o
nome de Deus em vão nem exclamações com o nome de Nossa Senhora.
7.
Espírito de fé
Seu
espírito de fé era extraordinário e toda a sua vida era dominada pela fé.
Revelava-se sobretudo na sua piedade eucarística. Que profundas reverências ao
SS.Sacramento! Quantas horas passadas a sós na capela diante do Senhor! Notável
seu amor à liturgia. Acompanhava com interesse as primeiras inovações
litúrgicas da época, como a nova tradução do saltério, aprovado por Pio XII
naqueles anos.
Grande
apreço a bênçãos, indulgências e favores espirituais.
Ao
ouvir a notícia da morte de alguém, vimo-lo muitas vezes recolher-se um
instante e murmurar uma prece por alma do falecido.
8.
Amor ao próximo
Seu
amor ao próximo levava-o a fazer os maiores sacrifícios para o bem dos outros.
Procurava servir a todos, prestar-lhes obséquios quando necessitados. Não
deixava ninguém carregar algum peso, sem imediatamente oferecer-se para
ajudá-lo.
Nunca
se furtou às confissões, naqueles tempos tão freqüentes e penosas para os
sacerdotes. Entregava-se de corpo e alma a esse árduo trabalho com todo o ardor
e dedicação, disposto a se sacrificar até o fim neste apostolado que lhe era
tão querido.
9.
Humildade
Junto
ao espírito de pobreza e penitência, outra virtude que lhe era característica
era a humildade.
Certo
sacerdote, visitando nossa casa, ao se aproximar o Pe. Rodolfo, sem discreção,
perguntou-lhe: “O senhor é o padre santo?” O nosso padre respondeu-lhe bem
seco: “Não; sou um grande pecador.”
Nessas
ocasiões, via-se como ele tinha um caráter forte com respostas bem secas. Mas
sabia dominar-se tão maravilhosamente que não deixava escapar nada que
ofendesse à caridade. Se para cumprir o dever ou involuntariamente, causava
desgosto a alguém, logo pedia perdão com a frase singela e costumeira: “peço
perdão”. Usava-a quando entrava no quarto de algum irmão, quando interrompia
uma leitura para perguntar algo, quando, enfim, causava o mínimo incômodo a alguém.
10.
Amor ao estudo
Seu
amor à Igreja e à vocação sacerdotal era o que o dirigia em seus estudos.
Apesar de não pensar em sarar nem viver muitos anos, nunca deixou de estudar.
Sob a aparência humilde que conservava na conversação, ocultava-se um
verdadeiro homem de estudo. Não o admirei como professor, mas tive a ocasião de
fazer-lhe várias perguntas sobre filosofia, que naquele tempo andava estudando,
e ele sempre me explicava muito bem. Vi-o também ler e traduzir com perfeição o
grego do Novo Testamento. Estava sempre lendo um dos volumes de Dogmática do
Pesch e outro das Memórias Biográficas de Dom Bosco.
Reparei
freqüentemente que a qualquer pergunta que se lhe fizesse, não respondia
precipitadamente, mas pensava um instante antes de o fazer.
11.
Características do Pe. Rodolfo
Excelência
Reverendíssima, amigos e irmãos, a esta altura, após a exposição desses fatos
das minhas reminiscências, gostaria de agrupar minha experiência pessoal do
contacto com o Pe. Komórek, em alguns aspectos que julgo mais salientes de sua
personalidade.
1º
- Coerência – Uma virtude que é básica na vida do Pe. Rodolfo, virtude que é
apregoada em nossos tempos como imprescindível para o homem moderno: é a
autenticidade. A vida moderna está a exigir do homem de hoje uma absoluta
coerência consigo mesmo, coerência de seu modo de agir e de falar com os
princípios norteadores de sua existência, com sua maneira de pensar, enfim, com
sua cosmovisão.
Rodolfo
Komorek levou este princípio às últimas conseqüências em seu modo de agir e de
portar-se nas mais variadas circunstâncias.
2º
- Fé visível – Essa coerência era fruto de sua fé, que era visível, diria
transparente. Era o testemunho vivo de seu amor ao Cristo. Sua maneira de
genufletir, sua postura diante do SS. Sacramento diziam claramente a todos os
que o observavam que ele tinha profunda convicção da presença real de Jesus na
Eucaristia.
3º
- Pobreza e penitência – Já referi alguns
fatos relativos a esses aspectos de sua espiritualidade, mas quero agora
apenas acrescentar que essas duas eram as características que saltavam aos
olhos de quem encontrava o nosso Servo de Deus. Pobreza nas vestes, pobreza no
quarto, pobreza na alimentação, pobreza no poupar as mínimas coisas.
Penitente
no olhar – olhos normalmente baixos, como se vê em suas fotos mais recentes.
Penitente no repouso noturno, no qual realmente não usava a cama, como era
evidente a quem entrasse em seu quarto. Penitente no aproveitar as comidas mais
rejeitadas pelos outros e menos saborosas.
4º
- Amor aos velhos, aos pobres, aos doentes desprezados – O Asilo Santo Antônio
e a S. Casa de Misericórdia desta cidade foram os grandes espaços de sua
heróica solicitude para com os últimos dos últimos.
5º
- Caridade para com todos – Pe. Rodolfo
não podia ver ninguém carregar um peso, sem que ele o ajudasse. Testemunhei
inúmeras vezes seus atos ou ao menos tentativas de ajudar a quem quer que fosse
a carregar qualquer coisa volumosa. Era o cumprimento literal da palavra de São
Paulo: “ Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos e deste modo,
cumprireis a lei de Cristo.” ( Gal 6,2)
6º
- Obediência – Vou citar apenas um exemplo, de que participei. O Inspetor de
então havia determinado que os Salesianos cortassem os cabelos uns dos outros,
por testemunho de caridade e economia. Aqui, em S,José, os salesianos, porque
enfermos, se consideravam dispensados dessa obrigação e vinha regularmente um
barbeiro prestar esse serviço à comunidade. Pe. Rodolfo interpretava que a lei
era válida também aqui, pois havia determinação escrita nesse sentido. Assim,
pouco depois que aqui cheguei, fui surpreendido por ele apresentando-me os
instrumentos de cortar cabelos e pedindo-me para “aperfeiçoar” dizia ele. Já havia iniciado
sozinho o corte do próprio cabelo. Cabia-me a tarefa de completar apenas.
Assim, me tornei seu barbeiro por aqueles três anos, evidentemente pedindo-lhe
que eu mesmo começasse e conduzisse até o fim a “artística” tarefa, da qual eu
tinha limitada experiência no Seminário.
7º - Humildade – Juntamente com a pobreza e a penitência, como falei
antes, sua profunda humildade transluzia de sua pessoa, de suas palavras, de
suas atitudes. Era na coerência de todo o seu ser que ele era sinceramente
humilde. Essa humildade transparecia no seu costumeiro pedido de perdão, a que
me referi antes, e se posicionar sempre no último lugar.
8º - Zelo pelo bem dos irmãos – Sua fé ardente o impulsionava a só
valorizar o espiritual, desprezando a matéria. Mas nem por isso deixava de
recomendar aos irmãos de cuidar bem da saúde. Dedicava-se aos outros com todas
as suas forças, com suas últimas forças físicas ,sobretudo à santificação dos
irmãos.
9º - Uma palavra sobre a sua Missa. Que missa, meus irmãos! Que ato de
fé e de piedade sacerdotal, à imitação
de nosso Pai Dom Bosco! A frase que se encontra no quarto mortuário de S. João
Bosco se realizava plenamente no Pe. Komórek: “Sacerdote, celebra a tua S.
Missa sempre – como se fosse a primeira; como se fosse a última; como se fosse
a única.” No seu último ano de vida, estando em casa, celebrou até o último
dia. Sua fraqueza era tal que, fazendo a primeira genuflexão no degrau sem apoio do altar, não tinha mais forças para
levantar-se e só apoiando as mãos no chão, é que podia erguer-se. Foram
realmente heróicas suas últimas missas, posso asseverá-lo.
10º - Conceito de santo – Há
inúmeros testemunhos de tal conceito que são por demais conhecidos. Por toda
parte por onde andou, recebeu o título de
“o padre santo”. O mais interessante é essa afirmação partir das
crianças e dos pequeninos. Ouvi dos meninos do Oratório Festivo perguntarem
ingenuamente num sábado, à tarde, ao Padre Gastão, nosso diretor: “É aquele
padre que está ficando santo quem vem celebrar a missa para a gente amanhã?”
Este
conceito se acentuou à sua morte e cresce sempre mais no meio do povo.
12.
Os “pequenos atos”
Amigos
e irmãos, admiradores de Rodolfo Komorek: acho que a santidade do Pe. Rodolfo
está sintetizada naquela frase que alguém colocou num santinho, com um
autógrafo seu:
“A
santidade se compõe de uma multidão de pequenos atos.”
Aí
está todo o Pe. Rodolfo – nos pequenos atos, atos de cada dia, atos de
sacrifícios incríveis, atos de pobreza, humildade, penitência e zelo, de
construção dia a dia da santidade que hoje lhe admiramos e veneramos.
13.
Uma carta – testemunho
Permitam-me,
amigos, apesar do tempo que já vai longo, reler para vocês a carta derradeira
que ele escreveu ao seu irmão Roberto, dois anos antes de sua morte, relatando
sua vida desde que deixara a Polônia. É profundamente reveladora de todo o seu
rico interior.
Ei-la
em seus trechos mais importantes:
“Caro
irmão:
Não
estou nem mal, nem muito bem; assim como agrada ao Senhor. Depois de uma
temporada bastante longa no sul, nos Estados do Rio Grande e santa Catarina, na
colônia habitada por europeus e seus descendentes, depois de alguns anos
passados na cidade de Niterói e em Lavrinhas, há 7 anos que vivo na cidade
climatérica de S. José dos Campos, no Estado de S.Paulo. Os meus pulmões estão
muito debilitados. Não sou mais capaz de viajar, nem de trabalhar no serviço
desejado das almas. Confesso um pouco, administro os sacramentos aos doentes,
celebro a Santa Missa uma vez nesta, outra vez naquela capela ou igreja, e
espero na misericórdia de Deus. Ou Ele ainda me restituirá as forças e a saúde
para que possa ser útil, ou me chamará à eternidade, talvez dentro em breve.”
Depois
de descrever um pouco a cidade de S.José dos Campos ele continua:
“Os
Salesianos têm aqui uma pequena residência
com capela particular. (...)
Também eu habito aí e ajudo, porém muito pouco. Não penso mais em voltar para a
Europa. Para quê? Isto não seria para a glória de Deus. O céu está a igual
distância daqui como daí. ( ...) No céu nos tornaremos a ver. Então nos
contaremos mutuamente quanto nos aconteceu nos anos vividos durante a
separação. Junto de Deus, na companhia da Santíssima Virgem e dos santos,
seremos felizes.
Perseveremos
na esperança da Divina Providência e em Maria Auxiliadora
dos Cristãos.
Teu
Rodolfo.”
14.
Resposta a uma objeção
Uma
observação final gostaria de fazer aqui, respondendo à objeção que é feita
comumente aos episódios mais notáveis da vida de Rodolfo Komorek.
Alguns
consideravam e ainda hoje há quem considere o seu um procedimento estranho e
esquisito, sobretudo nos aspectos da pobreza e da penitência.
A
resposta não é difícil.
Todas
as atitudes do Pe. Rodolfo em cada circunstância de sua vida decorrem da
absoluta coerência de sua opção pelos valores do espírito, fluem da radical
escolha do sobrenatural, do eterno, do transcendente, em oposição ao que é
material, efêmero e transitório.
A
outra resposta que podemos dar à objeção citada é que, ao longo da história da
Igreja, muitos santos apresentaram
comportamentos, reprovados pelos seus contemporâneos, porque
considerados esquisitos e quase fora da
normalidade.
O
que acontece é que, acomodados aos critérios do mundo, vítimas do bem-estar, do
eficiente e do produtivo, não entendemos nunca o Santo, que marcha contra a
corrente, que age contra o habitual, o comum, o aprovado pela sociedade de
consumo e prazer, em que vivemos.
15.
Conclusão
Excelência,
amigos e irmãos,
A
luminosa figura do Pe. Rodolfo Komórek, o “padre santo” o penitente austero,
ilumine o nosso caminhar para que sejamos cristãos verdadeiros, vivendo com
coragem o Evangelho pura e simplesmente, filhos do santo Dom Bosco, em cuja
escola se formaram heróis de santidade, como o nosso Pe.Rodolfo.
Obrigado.
S. José dos Campos, 11 de outubro
de 1980
Centenário
do nascimento do Pe. Rodolfo Komórek.