segunda-feira, 2 de setembro de 2013

“O HOMEM QUE NÃO QUERIA SER PAPA"




               Com esse sugestivo título, o jornalista alemão Andreas Englisch traça com clareza um aprofundado perfil da extraordinária figura do maior teólogo deste nosso século: Joseph Ratzinger, “o homem que não queria ser Papa”. É obra de demorada pesquisa, considerada por seus editores “uma narrativa envolvente, com paixão jornalística e meticulosa pesquisa.” Englisch mudou-se para Roma em 1987 e, desde então, trabalha com dedicação como jornalista especializado em assuntos do Vaticano.
                    Ele descreve com precisão a psicologia de Bento XVI, como professor universitário,  e escritor de grandes obras teológicas. Após uma experiência pastoral como arcebispo de
Munique e Freising de 1977 a 1981,  João Paulo II o chamou a Roma para confiar-lhe a difícil tarefa de Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional em 25 de novembro de 1981. Foi maldosamente  chamado por alguns de “o guardião da ortodoxia católica”.
                    Sabe-se que ele fez de tudo para não ser eleito Papa. Contígua à capela Sistina, onde o colégio cardinalício elege o novo Papa, há um aposento apelidado de “sala das lágrimas”, no qual o eleito troca a batina vermelha cardinalícia pela batina branca dos papas. O nome dessa sala caiu bem para o eleito no conclave de 2005. Acontece que a casa Gammarelli, que por tradição confecciona 3 batinas brancas para o final do conclave: uma pequena, uma média e uma grande, para atender à altura do possível eleito, daquela vez fez uma batina que ficou curta demais para o novo Papa. Era talvez um indicador de que ele não fora feito para aquela batina branca...
                    Suas primeiras palavras no balcão da basílica de S. Pedro são expressivas: “Após o grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, a mim, um humilde e simples operário da vinha do Senhor.” Nada de cardeal panzer, nem muito menos o papa que iria congelar a Igreja. Foi um pontificado sofrido, isso sim. Seu discurso na Universidade de Regensburg, com a citação do imperador bizantino sobre Maomé, trouxe-lhe amarga reação do mundo muçulmano. Com toda a humildade, ele confidenciou aos íntimos que poderia muito bem dizer aquilo como professor universitário, mas não como papa. Convidado pela Reitoria, a recusa dos estudantes da Universidade romana “La Sapienza” em recebê-lo, feriu profundamente o professor universitário que ele era. Seu pronunciamento sobre o uso de preservativos no combate a AIDS na África atraiu-lhe violentas reações. Seu discurso em Auschwitz sobre o extermínio dos judeus foi criticado com veemência. O perdão das excomunhões aos quatro bispos seguidores de Levefbre, sagrados sem mandato pontifício, incluiu o bispo Willianson por falta da informação de que esse bispo havia negado o holocausto judaico. Isso custou amargas queixas dos judeus ao sensível papa alemão. Ao mesmo tempo, Bento XVI foi mais contundente quanto aos padres pedófilos, especificamente da Irlanda – amarga herança que lhe deixou seu antecessor - também acolhendo com carinho as vítimas desses crimes em várias ocasiões.

                    Com sua humilde renúncia ao supremo pontificado, ficou claro ao mundo que Joseph Ratzinger é um “homem que não queria ser papa”...      

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