Com esse
sugestivo título, o jornalista alemão Andreas Englisch traça com clareza um aprofundado
perfil da extraordinária figura do maior teólogo deste nosso século: Joseph
Ratzinger, “o homem que não queria ser Papa”. É obra de demorada pesquisa,
considerada por seus editores “uma narrativa envolvente, com paixão
jornalística e meticulosa pesquisa.” Englisch mudou-se para Roma em 1987 e,
desde então, trabalha com dedicação como jornalista especializado em assuntos
do Vaticano.
Ele descreve com precisão a
psicologia de Bento XVI, como professor universitário, e escritor de grandes obras teológicas. Após
uma experiência pastoral como arcebispo de
Munique e Freising de 1977 a
1981, João Paulo II o chamou a Roma para
confiar-lhe a difícil tarefa de Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé,
presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional
em 25 de novembro de 1981. Foi maldosamente chamado por alguns de “o guardião da ortodoxia
católica”.
Sabe-se
que ele fez de tudo para não ser eleito Papa. Contígua à capela Sistina, onde o
colégio cardinalício elege o novo Papa, há um aposento apelidado de “sala das
lágrimas”, no qual o eleito troca a batina vermelha cardinalícia pela batina branca
dos papas. O nome dessa sala caiu bem para o eleito no conclave de 2005.
Acontece que a casa Gammarelli, que por tradição confecciona 3 batinas brancas
para o final do conclave: uma pequena, uma média e uma grande, para atender à
altura do possível eleito, daquela vez fez uma batina que ficou curta demais
para o novo Papa. Era talvez um indicador de que ele não fora feito para aquela
batina branca...
Suas
primeiras palavras no balcão da basílica de S. Pedro são expressivas: “Após o
grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, a mim, um humilde
e simples operário da vinha do Senhor.” Nada de cardeal panzer, nem muito menos
o papa que iria congelar a Igreja. Foi um pontificado sofrido, isso sim. Seu
discurso na Universidade de Regensburg, com a citação do imperador bizantino
sobre Maomé, trouxe-lhe amarga reação do mundo muçulmano. Com toda a humildade,
ele confidenciou aos íntimos que poderia muito bem dizer aquilo como professor
universitário, mas não como papa. Convidado pela Reitoria, a recusa dos
estudantes da Universidade romana “La Sapienza” em recebê-lo, feriu
profundamente o professor universitário que ele era. Seu pronunciamento sobre o
uso de preservativos no combate a AIDS na África atraiu-lhe violentas reações.
Seu discurso em Auschwitz sobre o extermínio dos judeus foi criticado com
veemência. O perdão das excomunhões aos quatro bispos seguidores de Levefbre,
sagrados sem mandato pontifício, incluiu o bispo Willianson por falta da
informação de que esse bispo havia negado o holocausto judaico. Isso custou
amargas queixas dos judeus ao sensível papa alemão. Ao mesmo tempo, Bento XVI
foi mais contundente quanto aos padres pedófilos, especificamente da Irlanda –
amarga herança que lhe deixou seu antecessor - também acolhendo com carinho as
vítimas desses crimes em várias ocasiões.
Com
sua humilde renúncia ao supremo pontificado, ficou claro ao mundo que Joseph
Ratzinger é um “homem que não queria ser papa”...
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